Empresários estão com a confiança em baixa
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou ontem o índice de confiança do empresário industrial, que atingiu, em julho, o menor patamar desde abril de 2009, pico dos efeitos da crise internacional no país, provocada pela quebra do banco norte-americano Lehman Brothers. O indicador foi um banho de água fria na esperança do governo de aumentar os investimentos produtivos no país, única saída para levantar o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2012. De acordo com a CNI, a confiança da indústria em julho ficou em 53,3 pontos, um recuo de 2,8 pontos ante junho (a maior queda em pontos desde julho de 2010) e de 4,5 pontos na comparação com igual mês do ano passado. Os indicadores variam de 0 a 100. Valores acima de 50 pontos indicam condição melhor ou expectativa otimista e abaixo, falta de confiança.
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Sem recuperação: indústrias que produzem ferro estão trabalhando com apenas 42% da capacidade instalada |
“Há uma dificuldade da indústria em se recuperar e o crescimento da demanda interna já não é tão grande, em um momento em que o parque industrial está ocioso e os estoques elevados. Isso tudo leva a um quadro de redução nos investimentos. Estamos muito preocupados”, avaliou o economista da CNI Marcelo de Ávila. Na indústria mineira, a expectativa da maior parte dos empresários coincide com a apurada pela CNI no país, o que deverá interromper investimentos planejados no setor.
Segundo o presidente do Conselho de Política Econômica da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Lincoln Gonçalves Fernandes, no estado as fábricas não estão girando no ritmo esperado para o segundo semestre. “A gente já sabia que o primeiro semestre seria ruim, mas esperávamos uma recuperação nos dois últimos trimestres do ano. Estamos em julho e olhando pelo retrovisor ficamos mais preocupados. Não estamos enxergando expectativa de melhoria para o segundo semestre.”
De acordo com Fernandes, a situação é mais delicada nos segmentos que já vinham enfrentando dificuldades como os de eletroeletrônicos, bens de capital, produtos metalúrgicos, têxteis e confecções. Diante disso, além da paralisação dos investimentos programados, na segunda metade do ano a média de empregos gerados no estado deverá ficar abaixo da nacional. Setores como o de peças fundidas padecem com a falta de entusiasmo na economia há cerca de quatro anos. Fausto Varela, presidente do Sindicato da Indústria do Ferro no Estado de Minas Gerais (Sindifer), conta que as empresas estão trabalhando no estado com 42% de sua capacidade instalada.
“O custo Brasil inviabiliza as exportações, que historicamente respondiam por 50% da nossa produção. E nem mesmo a recuperação do dólar deu um jeito nisso. Fizemos demissões em 2009, mas até agora não conseguimos recuperar os níveis de exportação”, diz Varela. Por outro lado, segundo ele, a demanda interna pelo gusa também caiu em função do aumento da importação de aço. No segmento de confecções os problemas também começam a aparecer. O diretor-superintendente da Citerol, fabricante de uniformes, Renné Wakil Júnior, vai tentar fechar o ano com a mesma quantidade de peças vendidas e o mesmo faturamento do ano passado. “O esforço será feito no sentido de empatar com o resultado de 2011. Os planos que eu tinha de trocar equipamentos antigos por novos foram paralisados. Não posso investir em mais nada este ano.”
Segundo Ávila, a confiança do empresário vinha caindo desde o início de 2010, mas começou a se recuperar em janeiro. Desde junho, no entanto, começou um movimento de ruptura com o ciclo positivo. O índice da CNI detecta a confiança dos industriais em relação às condições atuais da economia e da empresa e as expectativas para os próximos seis meses. Na avaliação das condições atuais, o índice ficou em 44 pontos, contra 46,9 pontos em junho.
Reajustes só para defasados
Brasília – Apesar de tentar manter um discurso duro, a presidente Dilma Rousseff admite, que se encontrar espaço no Orçamento de 2013, pode dar algum reajuste aos servidores que estão com os salários mais defasados, como é o caso dos militares e dos funcionários do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Entretanto, nada está definido até 31 de agosto, último dia para encaminhar a proposta orçamentária ao Congresso.
Em geral, todas as categorias têm sido beneficiadas pelo governo petista com a reposição da inflação desde 2003. Segundo o Planalto, os militares e uma carreira específica do Incra foram esquecidos desde então. Mas reconhecer o problema não significa que eles terão prioridade nos reajustes. O primeiro foco eram os professores, para os quais foi apresentada uma proposta na semana passada.
O governo também vê com atenção outros três segmentos considerados estratégicos: a Receita Federal, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Polícia Federal. Em relação à Anvisa, os temores são de que uma greve no órgão dificulte a importação de medicamentos e a exportação de produtos como carnes, com grande peso na balança comercial. Os fiscais da Receita iniciaram o “procedimento padrão”, gerando filas de caminhões nas fronteiras. Uma paralisação da PF deixaria desprotegidas as entradas para o país.
A prioridade da presidente Dilma no momento é evitar o aumento do desemprego no setor privado e estimular os investimentos das empresas para tentar reaquecer a economia do país. As últimas projeções são de que o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá menos de 2% este ano. Além disso, o governo trabalha com uma frustração de R$ 20 bilhões na arrecadação do primeiro semestre, graças à diminuição do ritmo do recolhimento de tributos ligados ao setor produtivo. Com isso, o espaço para manobras de estímulos à iniciativa privada e de reajustes está cada vez menor.
Já os servidores, que possuem estabilidade no emprego, entregaram ao governo uma fatura de R$ 92,2 bilhões – praticamente 50% da folha de pagamento do funcionalismo público – e partem para o tsunami de greves e esquecem que o setor privado é que financia suas aposentadorias integrais.
Fonte: Estado de Minas