Minas é o único estado do Sudeste com crescimento de mortes de jovens no trânsito
19 de Julho de 2012 às 09:16
por: Valquiria Lopes e Guilherme Paranaiba
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A vida na linha de risco: adolescentes se equilibram sobre mureta aguardando melhor momento de atravessar o movimentado Anel Rodoviário de Belo Horizonte |
Sinal vermelho para a juventude em ruas, avenidas e rodovias de Minas. O estado que ostenta a maior malha viária do país e onde a cada feriado prolongado as vítimas das estradas se contam às dezenas detém também o primeiro lugar na Região Sudeste em número de crianças e jovens de até 19 anos mortos no tráfego. Os dados fazem parte do estudo Mapa da violência 2012/Crianças e adolescentes, divulgado ontem pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais e pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos.
Eles apontam que em uma década, entre 2000 e 2010, o aumento de mortes nessa faixa etária foi de 23,2% em território mineiro, passando de 440 para 542 óbitos. Os números valeram ao estado a condição de único entre seus vizinhos de região a registrar aumento nesses indicadores. Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo tiveram queda nos índices. A taxa de mortalidade no tráfego por grupo de 100 mil habitantes nessa população também coloca Minas em destaque negativo. Com salto de 6,3 para 8,9/100 mil, o estado pulou da 21ª posição no país em 2000 para 14º lugar no ranking nacional em 2010. O aumento foi de 40% na taxa de óbitos por acidente viário.
No Brasil, os acidentes com carros envolvendo menores de 19 anos estão em segundo lugar na lista das mortes no trânsito, com taxa de 20,9%, o mesmo percentual dos atropelamentos com vítimas nessa faixa etária. Isoladamente, a liderança é dos desastres com motos (27,8%)
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Na avaliação do chefe do Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia da Universidade Federal de Minas Gerais, Nilson Tadeu Ramos, o cenário negativo registrado no trânsito do estado pode ser entendido como resultado de um cruzamento de fatores. Segundo ele, é preciso levar em conta o aumento de 146% da frota mineira, que passou 3,2 milhões para 7,9 milhões de veículos entre 2000 e 2010. “Com mais carros nas ruas e rodovias, as pessoas estão mais expostas ao risco de atropelamentos e acidentes de trânsito.”
No entanto, o especialista é rígido ao criticar a postura de condutores que expõe crianças a risco. “Tem muito motorista que anda na marginalidade. Menores que dirigem sem habilitação, habilitados que abusam da velocidade e que não se preocupam com equipamentos de segurança para si próprios ou para passageiros. Também assumem comportamentos perigosos, aumentando a gravidade dos acidentes e do risco de morte dos passageiros”, disse. Nunes lembrou ainda da negligência de motoristas com a cadeirinha para transporte de bebês e crianças no banco de trás do veículo. “Ainda é comum que as pessoas não usem os equipamentos de segurança. Cadeirinha não é um item barato, mas é um investimento necessário. Infelizmente, tem gente que acha que o acidente nunca vai acontecer com a família”, afirmou. No quesito legislação, o especialista afirma que a lei que pune os crimes de trânsito ainda é branda e precisa melhorar.
Vulneráveis
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Perigo desnecessário: menino escala a grade para atravessar avenida fora da passarela |
Mas o risco para crianças e adolescentes vem também do comportamento fora dos carros. Basta uma volta por algumas das vias mais movimentadas da capital para flagrar jovens expostos a risco, por imprudência ou falta de estrutura. Nos 26 quilômetros do Anel Rodoviário da capital, a via mais movimentada da cidade, por exemplo, ocorre diariamente um show quando o assunto é travessia em locais perigosos. Foi o que flagrou a reportagem do Estado de Minas em um trecho entre os bairros Goiânia e Nazaré, Nordeste de BH, onde dois meninos andavam sobre a mureta central da rodovia, aguardando o melhor momento para atravessar em meio ao tráfego pesado. O simples vai e vem de caminhões e ônibus poderia contribuir para desequilibrá-los e causar uma tragédia.
Na Avenida Nossa Senhora do Carmo, Bairro Sion, Centro-Sul da capital, outro flagrante de risco. Em um trecho da via próximo à entrada do Morro do Papagaio, a travessia é proibida, com grades dos dois lados. Uma criança ignora os obstáculos e pula a grande para alcançar uma árvore no canteiro central. Atravessa a primeira pista, escala a árvore, desce, e atravessa a segunda pista sem se importar com o movimento intenso. E o pior: bem perto de uma passarela.
Fonte: Estado de Minas