Dólar encarece o pãozinho e adia viagens

05 de Junho de 2012
por: Paula Takahashi e Carolina Mansur

Do pãozinho francês ao setor de autopeças e eletroeletrônicos, passando por vinhos e conservas, não há produto importado ou com componentes que venham de fora que fique imune à arrancada do dólar frente ao real, que já está chegando ao bolso dos brasileiros. Ontem, na quinta elevação consecutiva, a moeda americana fechou cotada a R$ 2,05 e já soma mais de 10% de valorização no ano. Perecíveis e com grande rotatividade nas prateleiras, alimentos e bebidas – em especial os vinhos – são os primeiros a sofrer reajustes. A alta de preços, inicialmente pontual, deve abarcar todo o mercado importador nos próximos dois a três meses, podendo variar entre 15% e 20% segundo estimativa da Associação Brasileira de Exportadores e Importadores de Alimentos e Bebidas (Abba).

Na Costazzurra, importadora com mais de 2,3 mil clientes no país, o mês de junho já começou com cotação mais alta. “Estamos observando há 60 dias o comportamento da moeda. O que nos preocupou é que o dólar não voltou para o patamar anterior, o que nos fez rever os valores”, explica o diretor comercial da empresa, Fernando Andreotti. Desde sexta-feira, a cotação utilizada é de R$ 2, frente à média de R$ 1,80 a R$ 1,85 praticada anteriormente. Entre o mix de produtos da Costazzurra estão azeites, conservas, patês, massas, além de vinhos que já estão chegando com reajuste, em reais, da ordem de 10% para os estabelecimentos comerciais, entre eles, o supermercado Verdemar.

O diretor comercial do Verdemar, Alexandre Poni, reconhece o repasse da elevação dos custos que considera “inevitável”. “Não tem escapatória. À medida que as mercadorias vão chegando, o valor é reajustado”, explica. “Vamos tentar repassar o menor percentual possível, mas não há como segurar uma vez que o que está chegando, mesmo que comprado com antecedência, paga impostos com o dólar na cotação atual”, acrescenta.

Os novos valores não passaram desapercebidos pelo bancário Ercílio Domingues Júnior, que foi surpreendido pelo reajuste no preço do vinho e frutas secas. “Um chileno que eu comprava por R$ 96, hoje está em R$ 105. É uma variação pequena, de mais ou menos 10%, mas que eu imagino que deverá chegar com mais força daqui a algum tempo”, diz. São produtos que, segundo o presidente do Sindicato dos Despachantes Aduaneiros de Minas Gerais e diretor da Atlas Comércio Exterior Frederico Pace não tem produção nacional que atenda ao consumo o que justifica o reflexo imediato.

Apesar de garantir manutenção dos preços a curto prazo, a Casa Rio Verde, especializada na venda de vinhos, reconhece que o produto já tem chegado mais caro. “Europeus estão 10% mais caros e chilenos e argentinos cerca de 15%”, afirma o superintendente Haendel Roberto. A alta de 5% no preço do pão, estimada pela Associação Brasileira da Indústria da Panificação e Confeitaria (Abip) para este mês, não deve demorar a chegar nas padarias da capital. “A farinha deve vir com preço novo a partir da semana que vem. Fatalmente haverá aumento”, afirma o presidente da Associação Mineira da Indústria da Panificação (Amipão) José Batista de Oliveira.

 


Estoques A presidente executiva da Abba garante que há estoques reguladores no mercado que, a médio prazo, poderão evitar que os preços cheguem mais salgados para o consumidor. “Entre 70 e 90 dias, a variação média de preços, se ocorrer, não deve ultrapassar 5%. Depois deste período, mantido o dólar acima de R$ 2, as mudanças acontecerão na casa de 15% a 20%”, avalia. Na importadora Chen, os estoques ainda devem ser mantidos por cinco a seis meses, quando poderá haver remarcação de valores.

O diretor da Domus Importação e Exportação Frederico Martini confirma que as empresas com estoque ainda não estão repassando a variação do dólar, mas acredita que os impactos serão sentidos mais cedo, especialmente pelo setor de alimentos. “Muita coisa já estava em trânsito com o valor da mercadoria negociado. Mas desde a semana passada novos contratos estão sendo assinados com o câmbio atual”, explica. Embarcadas, essas mercadorias chegam no Brasil nos próximos 10 a 40 dias de acordo com a origem e aí, já estarão mais caras.

O reflexo a curto e médio prazo será a redução dos pedidos, lamentada por Fernando Andreotti que considera o inverno um segundo período natalino, quando aumenta o consumo de alimentos e vinhos. A longo prazo pode significar a migração dos hábitos de consumo para equivalentes nacionais. Ainda sem sentir os efeitos da alta do dólar, a autônoma Michelle Wanderley Martins, continua optando pelos produtos importados. “Hoje compro o azeite francês porque ele é muito mais barato que o nacional”, explica. Porém, segundo ela, caso o reajuste seja excessivo a preferência será dada aos produtos nacionais, que chegam às prateleiras como uma opção mais acessível.

Daqui para o futuro
Energia elétrica vai subir com valorização


A alta do dólar tem impacto nas principais distribuidoras de energia elétrica do Sudeste e do Centro-Oeste, que são obrigadas a comprar energia de Itaipu, precificada em dólar. Quando a moeda americana está desvalorizada em comparação com o real, ganha o consumidor. Mas, se a situação muda, a tarifa aumenta e o consumidor perde. Rosângela Ribeiro, analista de investimento da Fundamental Assessoria Consultoria de Valores Mobiliários, explica que a valorização da moeda americana em 2012 terá impacto na redução tarifária da Eletropaulo, em São Paulo. Este ano, a companhia passa por uma revisão tarifária e comunicou à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que deverá reduzir a tarifa ao consumidor em média em 8,8%. “Com a alta do dólar, acredito que essa redução já será menor”, avalia a especialista. No caso da Cemig, a elevação do valor do dólar frente ao real será sentida pelos consumidores em abril do ano que vem, período no qual a concessionária mineira também passará por uma revisão tarifária, que acontece a cada quatro anos.(Zulmira Furbino)

Menos viagens para o exterior

Geórgea Choucair

A alta do dólar levou o turista a pisar no freio na hora de decidir pelas viagens internacionais. Nos últimos dias, a procura pelos destinos para o exterior caiu cerca de 10% nas agências de viagens, segundo a Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav). “A demanda pelos pacotes internacionais estava crescente, mas o pessoal assustou e deu uma recuada. Já as vendas dos nacionais se mantiveram estáveis em Minas”, diz Antônio da Matta, presidente da Abav-MG.

A queda nas vendas dos destinos ao exterior provocaram inversão na demanda, avalia Matta. Atualmente cerca de 60% das vendas são feitas para pacotes nacionais e 40% internacionais. “Antes, cerca de 65% a 70% era internacional”, diz. Na Master Turismo, a compra de pacotes para o exterior caiu em torno de 20% nos últimos dias. “A procura não diminuiu, mas agora as pessoas pensam duas vezes antes de tomar a decisão”, diz Lenini Lamounier, diretor comercial da Master.

Ele ressalta, no entanto, que as tarifas cobradas por alguns resorts brasileiros ainda estão mais altas do que no exterior. “E se de um lado a pessoa fica insegura com a alta do dólar, do outro ela tem a chance de aproveitar e fechar a viagem com o câmbio do dia”, diz Lenini.

A oscilação da moeda americana interfere principalmente nas viagens das classes B, C e D, avalia Marcelo Cohen, diretor da Belvitur Turismo. “A classe A ainda não sentiu, continua no mesmo ritmo de compras. Tanto é que nossas vendas totais cresceram 30% em maio, na comparação com o mesmo mês de 2011”, diz Cohen.

O diretor da Acta Turismo, José Carlos Vieira, afirma que as oscilações na moeda é que geram maior impacto na decisão do turista. “Os pacotes nacionais ainda continuam mais caros do que os internacionais. Agora, se o dólar passar de R$ 3, a situação das vendas ao exterior podem complicar”, afirma.

Sem ameaça de elevar a inflação

Marinella Castro

A alta do dólar deixa mais caros itens importados, de alimentos a produtos tecnológicos, mas a despeito da pressão no custo de vida, o câmbio ainda não deu sinais de desviar o dragão de sua rota, rumo ao teto da meta fixado pelo governo em 6,5% para 2012. Em maio o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de Belo Horizonte, medido pela Fundação Ipead/UFMG registrou alta de 0, 33, permanecendo estável em relação a abril. “Mesmo com a alta do dólar, a inflação esse deve ano fechar abaixo do percentual registrado no ano passado”, comenta Wanderley Ramalho, coordenador de pesquisa e desenvolvimento da Fundação.

No ano passado o custo de vida de Belo Horizonte fechou em 7,22%, acima da média brasileira que encerrou 2011 em 6,5%. Em 2012, a inflação de BeloHorizonte dá mostras de desaceleração. Em maio as principais pressões de alta vieram do grupo saúde e cuidados pessoais com variação de 1,68%, com destaque para planos de saúde, que no mês ficaram 3,73% mais caros. A alimentação na residência também pesou, com alta de 0,84%. Do outro lado da balança o preço das excursões registrou variação negativa de 12,6%.

Em relação a maio do ano passado, quando o índice apontou alta de 0,58%, o IPCA também reduziu o ritmo. Já a cesta básica fechou maio em alta de 2,67%, bem maior que a inflação do período, de 0,33%.  No acumulado do ano a cesta básica está em queda de 0,11, contra um IPCA de 3,53%. Nas cálculos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a cesta básica alcançou valor de R$ 264,95 em maio, com alta de 2,38% sobre abril e de 7,17% em relação ao mesmo mês do ano passado.

 

Fonte: Estado de Minas

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