Juros voltam a subir em julho

27 de Julho de 2012 às 09:03
por: Victor Martins

Brasília – Pressionados por uma inadimplência resistente e pela crise internacional, os bancos voltaram a pesar a mão sobre o bolso do consumidor. Segundo dados do Banco Central, o custo do crédito para as famílias aumentou 1,3 ponto percentual no início de julho: a taxa média saiu de 36,5% ao ano — o menor valor desde 1994 —, para 37,8%. A alta é uma resposta das instituições aos fracos balanços apresentados no primeiro semestre do ano, sobretudo depois de alguns bancos, pela primeira vez em dez anos, amargarem retração no lucro — o Santander, ontem, divulgou recuo de 35,2% no segundo trimestre. Os banqueiros, de acordo com esses dados preliminares, mexeram justamente onde o governo não queria, nos spreads (diferença entre o que o banco paga para captar recursos e o que ele cobra para emprestar).

Balanço do Santander, divulgado ontem, mostra recuo de 53,2% no lucro do segundo trimestre de 2012 (MARIA TEREZA CORREIA/EM/D.A PRESS - 13/4/12)  
Balanço do Santander, divulgado ontem, mostra recuo de 53,2% no lucro do segundo trimestre de 2012


Os números divulgados ontem pela autoridade monetária se referem à média dos primeiros 11 dias úteis de julho. No período, os spreads registraram incremento de 1,6 ponto percentual, passaram de 28,5 pontos percentuais para 30,1. “Essa alta pode ser um reflexo da maior aversão ao risco em função da crise internacional e por uma maior seletividade nas concessões de crédito”, avaliou Newton Rosa, economista-chefe da gestora de recursos Sul América Investimentos. Para Fernando Moura, gestor da consultoria Acoi Expert Network, o percentual ainda alto de inadimplência tem levado os bancos a buscar soluções para melhorar os resultados. “Os bancos estão preocupados com os calotes. As despesas recém publicadas pelo Bradesco, por exemplo, com provisão para devedores duvidosos, foi 40% maior que no mesmo período do ano anterior, atingindo R$ 3,4 bilhões”, observou.

Correção

Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do Banco Central, defende que os motivos sejam outros. “É sazonal. Toda época, nesse período, há um aumento”, garantiu. Segundo ele, depois de uma queda expressiva nas taxas, também é “natural alguma correção” para cima. Pelo menos até junho os indicadores mostram que o crédito tem respondido aos estímulos dados pelo governo. A carteira de veículos, por exemplo, registrou avanço de 1,4% no mês passado, atingiu R$ 202,7 milhões. Na avaliação de especialistas, o crédito automotivo cresceu puxado pela redução de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os carros. “O consumo segue evoluindo positivamente e o crédito tem papel relevante nisso”, disse Maciel.

As concessões diárias para os consumidores, na média, cresceram de maneira robusta, segundo a avaliação de especialistas. Em junho, avançaram 6,4%. O segmento veículos expandiu 22,8%, o cheque especial, 3,1%. Apenas o crédito pessoal, o que acumula o maior volume do sistema financeiro, apresentou recuo, caiu 1% no mês. “O crédito continua tendo papel importante no crescimento econômico. Vai contribuir para a aceleração da atividade econômica no segundo semestre do ano”, afirmou Maciel. Ainda assim, técnicos do governo e o mercado esperam um incremento “moderado” no crédito total em 2012. O BC projeta que em dezembro os empréstimos e financiamentos representem 52% do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas do país). Em junho, essas operações alcançaram 50,6%.

Calote dá sinais de estabilização

Depois de um ano e meio em escalada, a inadimplência deu os primeiros sinais de que irá recuar. Pelos dados do Banco Central, a diminuição ainda é tímida, o calote caiu apenas 0,1 ponto percentual entre as famílias e as empresas. O índice dos consumidores, porém, ainda é considerado alto pelo mercado, passou de 7,9% para 7,8%. A melhora foi comemorada pelo governo. O presidente do Banco Central, no início da semana, já havia antecipado, durante discurso de apresentação das novas cédulas de R$ 10 e R$ 20, que o indicador havia arrefecido. Especialistas, porém, afirmam que é cedo para celebrar e explicam que o número mostra apenas que a inadimplência bateu no teto.

Queda dos índices de inadimplência é o primeiro passo para a retomada do consumo e do crescimento (MARCOS MICHELIN/EM/D.A PRESS - 17/7/12)  
Queda dos índices de inadimplência é o primeiro passo para a retomada do consumo e do crescimento


Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC, avaliou os dados como positivos porque os atrasos de 15 a 90 dias, que ainda não são considerados um calote, também recuaram — entre maio e junho houve diminuição de 0,2 ponto percentual na taxa geral. Em veículos, o recuo foi de 0,5 ponto percentual, uma queda que também foi motivo de comemoração para os técnicos do BC: pela primeira vez desde dezembro de 2010 o indicador cedeu. Para o cheque especial, o recuou foi de 0,2 ponto percentual, para o CDC, 0,3.

Questionado se a redução dos juros não deveriam ter impacto maior sobre a inadimplência, como haviam projetado os economistas do governo, Maciel argumentou que há uma defasagem, mas que ao longo do segundo semestre esse movimento deve ficar mais evidente. Ele disse ainda que as estatísticas não captam com clareza os pedidos de renegociação em função das reduções de juros. “As estatísticas não são muito sensíveis para esse tipo de movimento”, afirmou.

Para Flávio Serrano, economista do Espirito Santo Investment Bank, o número divulgado ontem pelo BC é apenas um primeiro indício de que o calote vai recuar. “Precisamos de mais um ou dois meses para definir se isso é uma tendência”, disse. Especialistas lembram ainda que a resistência da inadimplência é favorecida pelo elevado endividamento das famílias, que bateram no nível recorde em maio, em 43,43% da renda acumulada em 12 meses. Para o Banco Central, no entanto, os dados são favoráveis e as famílias ainda têm espaço para se endividar. “O crédito cresceu de acordo com a capacidade de pagamento e com a renda das famílias”, ponderou Maciel. (VM)

 

Fonte: Estado de Minas

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