Partidos informam ao TRE que vereadores de BH terão despesas milionárias
Vereadores de Belo Horizonte que tentam conquistar mais quatro anos de mandato nas urnas em outubro dizem estar constrangidos diante dos valores de gastos de campanha registrados no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG). Se, no papel, a busca pelo voto do belo-horizontino vai custar de R$ 500 mil a R$ 1,5 milhão para cada um dos 39 parlamentares – dois dos atuais não concorrem –, somando R$ 26,5 milhões na disputa, no discurso o custo não chegará a 10% disso. Diante dos valores divulgados pela Justiça Eleitoral, eles vêm sendo questionados pelos eleitores e garantem: não têm esse dinheiro todo no bolso para gastar. A soma do que foi gasto em 2008, quando eles tiveram sucesso na eleição, corresponde a 15% dos valores de previsão declarados.
Na maior faixa de gastos, o vereador Bruno Miranda (PDT) tem o limite de R$ 1,5 milhão, mas afirma que só pretende gastar R$ 150 mil. “Não tenho essa bala toda não. Algumas pessoas me disseram que estou com muito, mas expliquei que não sou tão afortunado”, afirmou. Segundo Miranda, o valor foi fixado pelo seu partido para todos os candidatos. Sua campanha terá material básico, como santinho, placas, adesivos e equipe de apoio. Pelo menos é o que ele garante. “Na última gastei uma faixa de R$ 60 mil e tive 5,6 mil votos. Mas que tem gente com muito dinheiro na rua tem. A gente vê pela campanha nas ruas”, afirma.
Para o parlamentar, o valor necessário para se eleger varia de acordo com cada candidato. Quem já tem um nome definido e relacionado a alguma região, por exemplo, acaba gastando menos e tendo mais facilidade de se eleger. De acordo com o site do TRE, além de Bruno Miranda, Maria Lúcia Scarpelli (PCdoB) e Moamed Rachid (PDT) gastarão até R$ 1,5 milhão. Hugo Thomé e Divino Pereira, do PMN, também estão entre os mais “ricos”, com previsão de R$ 1 milhão na campanha.
A comunista Maria Lúcia Scarpelli garante que não pretende gastar nem 10% do R$ 1,5 milhão que lhe cabe. A vereadora disse não ter arrecadado nenhum real para a campanha. “Meu trabalho é com amigos, parentes, doações legais com recibo. Não tenho material, é uma campanha silenciosa”, afirmou. Scarpelli chorou recursos, mas disse que na última eleição, em que foi eleita com 6,3 mil votos, gastou R$ 235 mil. “Algumas portas se fecham por causa do meu trabalho na área de defesa do consumidor”.
O colega Hugo Thomé não lembra quanto gastou na última campanha, mas promete não gastar nem R$ 100 mil na atual. “Era bom até corrigir isso, porque a orientação do partido em nível nacional foi colocar R$ 1 milhão. Isso vale para o candidato mais simples, desempregado, até o com mandato. A população entendeu que a gente tem esse dinheiro todo para a campanha e fica complicado”, afirmou. Thomé disse ter pouca coisa na campanha e que vai reaproveitar material das eleições passadas. Adepto de instalações em vias públicas, na última eleição pôs cavalos e elefantes em tamanhos naturais para chamar a atenção dos eleitores na rua. “Nessa também vou fazer algo diferente”.
Audiências Na ala dos mais “humildes”, conforme o TRE, estão nove vereadores que podem gastar até R$ 500 mil cada. Entre eles está o democrata Preto, que assim como os parlamentares com previsão de despesas maiores, nega ter o dinheiro. Preto disse ter gastado R$ 130 mil na campanha passada, quando se elegeu com 7,4 mil votos. “Vereador que trabalha não tem esse problema. Só de audiências públicas na Câmara fiz mais de 100, então chega na época da eleição minha campanha fica talvez até mais barata, porque não sou de fazer campanha em cima da hora. Trabalho os quatro anos”, disse. O candidato adiantou que pretende visitar “pelo menos 10 mil pessoas”, trabalhando das 6h à meia-noite.
De acordo com as prestações de contas dos 39 candidatos à reeleição, a campanha de 2008 lhes custou R$ 3.999.969,56 – quase sete vezes menos do que o fixado como potencial de gasto este ano no TRE. Os parlamentares gastaram de R$ 10 mil – caso de Márcio Almeida (PRP) – a R$ 311,7 mil, que foi a campanha de Iran Barbosa (PMDB). Entre os vereadores que mais investiram na campanha estão ainda os petistas Neusinha Santos (R$ 241,1 mil) e Tarcísio Caixeta (R$ 236,1 mil) e o tucano Léo Burguês (R$ 212,3 mil). No grupo dos mais minguados restaram dois vereadores do PTdoB: Toninho da Vila Pinho, que gastou R$ 17,9 mil, e Edinho Ribeiro com R$ 16,5 mil.
Saiba mais LIMITES DE GASTOS
As despesas de campanha dos candidatos a vereador são declaradas ao TRE pelo partido político, que no registro estabelece um limite que deve ser obedecido por todos os que concorrem pela legenda. É o máximo que podem gastar, mas não obrigatoriamente o que irão empregar. O dinheiro vem de doações, que podem ser feitas pelo partido, por pessoas físicas (podem investir até 10% de seus rendimentos brutos declarados no Imposto de Renda), empresas (no limite de até 2% do faturamento do ano anterior) ou pelos próprios candidatos. Quem concorre não tem restrições para investir na própria campanha, podendo “se doar” até a verba toda a que tem direito de gastar.
Fonte: Estado de Minas