Mulheres protestam por melhores condições nos partos em Belo Horizonte

06 de Agosto de 2012 às 09:02
por: Thaís Pacheco

Quando estava prestes a dar à luz a primeira filha, em 2007, Pollyana Ferreira acreditava que a primogênita nasceria de parto natural. Na última semana da gravidez, o médico avisou que a criança teria de nascer de uma cesárea. “Ele alegou que minha filha poderia entrar em sofrimento fetal se a gente esperasse mais, então fiz a cesariana”, lembra Pollyana. Após sete meses, começou a se questionar se era mesmo necessário. “Senti um incômodo por algumas questões que não sabia. Minha filha nasceu e não veio para o meu colo, não tivemos contato pele a pele, como recomendado pela Organização Mundial de Saúde. Não fui a primeira pessoa que viu e ela passou por aspiração, que é muito incômodo para o bebê, para só depois vir ao meu colo”, lembra a mãe.

Essa é uma das histórias que levaram pouco mais de 100 mulheres e homens a marchar, ontem de manhã, pela humanização do parto, na Praça da Liberdade. A Marcha pela Humanização do Parto ocorreu também em várias capitais, como São Luís, Recife, São Paulo, Florianópolis e Palmas. O objetivo é reivindicar melhores condições na assistência ao parto e nascimento para todas as mulheres e bebês.

Um dos participantes foi o obstetra Hemmerson Magioni, de BH, que atua como humanista. “Hoje, o Brasil é um dos países campeões mundiais em cesariana. Tento caminhar por uma linha de mais respeito e informação para a mulher e o casal. Um cuidado durante toda a gravidez para elevar as taxas de parto normal, com menos intervenções. É o que a medicina comprova ser o melhor caminho para o nascimento”, diz Hemmerson, que é fundador do Núcleo Bem Nascer, que oferece à grávida apoio de obstetras, nutricionistas, psicólogos e vários outros profissionais para acompanhar o pré-natal e dar apoio com as informações necessárias. “O verdadeiro sentido de parto humanizado é aquele centrado na mulher, no desejo e vivência dela. Ela pode querer parto em casa, sem anestesia, como fez a Gisele Bündchen; na maternidade, tomando anestesia; ou por meio de cesariana porque foi necessário. O que não pode acontecer é padronização”, afirma Hemmerson.

Conceito
O médico gostou do que viu na marcha, mas acha válido fazer um aviso. “Foi muito lindo e bacana assistir a tudo o que aconteceu com mães, mulheres grávidas e outras não. E não adianta esperar o médico. A sociedade tem de se mobilizar, assim como as mulheres se mobilizaram no entendimento do aleitamento materno nos anos 80. A informação da mulher transforma conceitos”, diz Hemmerson.

Kalu Brum, jornalista, fotógrafa e doula, foi uma das mulheres que ajudou a organizar o evento. Ao fim da marcha, que deu a volta na Praça da Liberdade com cartazes, barrigas pintadas e palavras de ordem, realizou uma performance com outras duas pessoas. Elas surgiram amarradas e amordaçadas. “Simbolizando que a mulher não tem direito de falar para escolher, muitas ficam amarradas durante a cesárea ou têm as pernas amarradas no parto normal”, afirma Kalu.

Durante a performance, elas convocavam as mulheres a responder “não quero não”. Entre elas, a episiotomia, que Kalu luta contra. “É um corte no períneo, realizado em 90% dos partos normais. É considerado uma mutilação vaginal e proibido em vários países. No Brasil é normal”, contesta Kalu.

Marcha realizada, informação divulgada, agora elas continuam na luta. “Chamamos a atenção de quem passou e distribuímos folhetos. A expectativa é que as mulheres passem a prestar atenção nesse processo, que é tão importante para a vida”, conclui Pollyana Ferreira. Analista de sistemas, ela também é doula e integrante do grupo Ishtar, que se define grupo de apoio à gestante e ao parto ativo – pelo respeito ao tempo de gestar, parir e amamentar.

 

Fonte: Estado de Minas

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