Amamentar por seis meses é meta irreal para a maioria
Nova York, EUA. Na Semana Mundial do Aleitamento Materno, que vai até amanhã, o Brasil e outros 170 países estão unidos para reforçar a importância de os bebês se amamentarem durante os primeiros seis meses de vida. Entretanto, a questão divide opiniões e desperta a preocupação de que campanhas assim possam estar acumulando as sensações de culpa e de impotência em um número crescente de mulheres, muitas delas, incapazes de lidar com os custos, profissionalmente ou financeiramente, de licenças-maternidade prolongadas, porém, não remuneradas.
A maioria das mulheres, atualmente, trabalha o dia todo em lugares que não podem acomodar uma mãe para amamentar o filho. Poucas podem custear licenças-maternidade estendidas. E muitas mães de primeira viagem têm achado difícil - senão, impossível - alimentar seus bebês com apenas leite materno durante os seis primeiros meses de vida.
Agentes de saúde já ligaram a falha na continuidade da amamentação durante seis meses ao risco de fumar durante a gravidez, o que somente aumenta a pressão e a culpa sentida por essas mulheres.
Contudo, conforme demonstra um estudo recente realizado na Escócia, há uma lacuna insuperável entre o que é real e o que é ideal quando se trata da amamentação infantil nas famílias. Os autores, que conduziram entrevistas ao vivo com 220 pessoas, entre gestantes, mães recentes e seus parceiros, concluíram que metas mais realistas deveriam ser apoiadas pelos governos para essas famílias, principalmente em países como os Estados Unidos e o Reino Unido, que, em geral, falharam em atingir as metas de amamentação infantil estabelecidas.
Gratuidade. Hanna Rosin, mãe de três bebês amamentados, escreveu no "The Atlantic" que a amamentação envolve "um comprometimento sério de tempo e que exige que você não trabalhe de uma forma significativa. Quando as pessoas dizem que a amamentação é gratuita, isso só indicaria que o tempo da mulher não vale nada".
Os pesquisadores escoceses, cujo estudo foi publicado na revista científica "BMJ Open", concluíram que há "um embate entre o idealismo do que se pode fazer para amamentar uma criança e a realidade vivenciada". Algumas famílias, segundo eles, "percebem que a única solução que pode restaurar o bem-estar da vida familiar é interromper a amamentação e introduzir alimentos sólidos".
Os autores concluíram que "seis meses de amamentação exclusiva é uma meta nada realista e considerada inatingível por muitas famílias e que promovê-la é esperar que os pais se sintam fracassados". Os pesquisadores recomendam que, em vez de simplesmente ditar a forma como os bebês serão alimentados, os médicos discutam a situação com as famílias, para ver qual regime de alimentação do bebê seria o mais conveniente.
Traduzido por Luiza Andrade
Talvez os benefícios da amamentação prolongada não sejam tão positivos assim, considerando o estado de estresse que ele causa nas mães e até mesmo os conflitos no lar.
Uma das mulheres entrevistadas no estudo escocês disse que "parece que a recomendação é, basicamente, não faça nada que interfira na amamentação, mas isso simplesmente não se encaixa no resto de sua vida. Acredito que as pessoas acabam desistindo porque a meta é muito difícil de se atingir".
Em alguns casos de amamentação exclusiva, os parceiros acabam se sentindo deixados de lado, em relação aos cuidados com a criança e à ligação que é criada entre a mãe e o bebê. Uma das mulheres do estudo disse que o parceiro ficou "extasiado" quando o bebê finalmente aceitou a mamadeira dele. "É a hora que eles têm para ficar juntos e relaxar". (JB/NYT)