Comerciantes divididos sobre o uso das sacolinhas
08 de Agosto de 2012 às 08:55
por: Pedro Rocha Franco e Carolina Mansur
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Eduardo Mota admite que esquece a retornável no carro e precisa usar outros tipos de embalagens |
A padaria e supermercado Romanina, no Prado, por exemplo, firmou parceria com uma escola de idiomas para que fosse impresso o logotipo da empresa nas sacolas distribuídas no fins de semana. Já o Supermercado Topázio, no Santa Tereza, optou por retomar a distribuição de sacos de papel, como era feito na década de 1980. E o Supermercado Superalfa, no Caiçara, decidiu distribuir sacos compostáveis. “Tem gente que pergunta na porta se tem sacolinha. Se não tiver, vira as costas e vai embora”, afirma a proprietária do Superalfa, Marizete Gurgel.
Encanto mantido
Opinião semelhante tem o gerente da Romanina, Isaías Rodrigues, que, para que o cliente não perdesse o “encanto” pela padaria, decidiu também distribuir as sacolinhas durante a semana, e aos sábados são feitas ações de marketing em parceria com outras empresas do bairro. Elas patrocinam as embalagens e colocam um anúncio dentro da loja. “Além de reduzir o nosso custo, é uma forma de integrar a comunidade”, afirma Isaías, que, depois da primeira ação, já foi procurado por outras empresas do bairro para repetir a estratégia. No supermercado Topázio, para evitar abusos, o saco de papelão é deixado sob a caixa registradora e a ordem da gerência é controlar a distribuição para que o custo não seja elevado. “Estive em vários supermercados e muitos não têm opção para oferecer. O nosso saco é personalizado e resistente, o que se torna um diferencial”, afirma o gerente Juarez Oliveira.
Desde a proibição da distribuição de sacolinhas plásticas, a sacola retornável se tornou opção para reduzir os danos ao meio ambiente, mas, no caso de compras repentinas, é preciso dar opção aos clientes. Mas, segundo o empresariado, a maioria ainda esquece de levar as embalagens. O publicitário Eduardo Mota admite que na maioria das vezes deixa a sacola que comprou no carro e, por isso, é preciso ter uma alternativa para conseguir carregar tudo. “Quando era vendida a sacolinha biodegradável, cheguei a comprar menos mercadoria do que gostaria”, afirma. O mesmo se repete com o servidor público Renato Veloso. Ele diz que ficar sem sacola é impossível, dependendo do produto, e crítica a medida do Procon. “A sacolinha é mais prática, mesmo vendida. Foi ruim para o consumidor”, afirma ele, que, gostou da embalagem de papelão para compras menores.
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"Tem gente que pergunta na porta se tem sacolinha. Se não tiver, vira as costas e vai embora", diz Marizete Gurgel, dona de supermercado |
Defesa pronta para análise
Enquanto os comerciantes se desdobram para não perder os clientes diante da falta da sacolinha, representantes da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), Procon Assembleia, Fecomércio/MG, Movimento das Donas de Casa (MDC/MG), Secretaria Municipal de Meio Ambiente, das associações mineiras de supermercados (Amis) e da indústria da panificação (Amipão) e lojistas se reuniram para propor soluções. Um relatório com todas as propostas discutidas no encontro será enviado para o Ministério Público (MP) estadual, responsável pela medida cautelar. Como sugestões levantadas pelas entidades está a compra coletiva de sacos de papel, pelo próprio comércio, que substituíriam as sacolas compostáveis nas necessidades pontuais ou a oferta das sacolas retornáveis mais baratas com destinação de parte dos lucros a hospitais e outras entidades filantrópicas.
Convidado pela ACMinas, o promotor Amauri Artimos da Matta não compareceu, mas por e-mail informou que “aguarda a apresentação das defesas da Amis e das empresas reclamadas para oportunamente se posicionar a respeito” e garantiu que “a manifestação será considerada no momento do julgamento do processo adminstrativo”.
Hoje, a Amis entregará ao MP a sua defesa, mas não enumerou quais são as alternativas vislumbradas por ela para atender o consumidor. O superintendente da Amis, Adilson Rodrigues, informou apenas que o órgão é “apoiador de todas as ideias apresentadas no encontro, que quer fazer parte da solução e que o mercado terá de ser criativo em busca de uma solução que satisfaça os consumidores”.
Na reunião convocada pela ACMinas o consenso foi de que a volta da distribuição gratuita das sacolas plásticas trará prejuízos aos ganhos ambientais e educacionais gerados desde que a lei municipal entrou em vigor. “Percebemos que 97% dos consumidores mudaram o hábito e usam a sacola retornável. Apenas 3% ainda consomem a sacola plástica. Portanto, a solução é focar nesse consumidor e conscientizá-lo”, considera Adilson Rodrigues.
Para a presidente do MDC/MG, Lúcia Pacífico, a alternativa imediata é incentivar o uso da sacola retornável e no futuro propor o retorno dos sacos de papeis em substituição às sacolas. “Na década de 1980 usávamos e era eficiente. O papel não agride o meio ambiente como o plástico”, afirma. “Mas precisamos bater firme para firmarmos o hábito das sacolas retornáveis”, reforça. (PRF e CM)
Fonte: Estado de Minas