Casa própria mais barata e fácil de pagar

06 de Junho de 2012
por: Silvio Ribas e Mariana Mainenti

Brasília – O governo se apressa para colocar em marcha seu pacote de medidas para reativar a economia, antecipado por perspectivas pessimistas para o Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riqueza produzidas) neste ano. Após iniciar a semana cobrando resultados e sugestões de ministros da área econômica, em reuniões de urgência na manhã de segunda-feira, a presidente Dilma Rousseff reafirmou ontem a intenção de continuar ampliando crédito, reduzindo juros e aliviando impostos sobre a produção de setores estratégicos como forma de evitar o prolongamento da estagnação, embalada pela incerteza global. “Sistematicamente, tomaremos medidas para expandir o investimento público, privado e o consumo das famílias”, avisou.

Mudanças anunciadas pelo banco federal visam elevar vendas de unidades e estimular o crescimento da construção civil nos próximos meses (GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS %u2013 13/9/11)  
Mudanças anunciadas pelo banco federal visam elevar vendas de unidades e estimular o crescimento da construção civil nos próximos meses


A saída para a crise atual, ressaltou a presidente, é a mesma encontrada pelo país na de 2008 e 2009, com estímulo da demanda e da produção e com geração de emprego e distribuição de renda. “O Brasil saberá enfrentar a segunda onda da crise internacional com mais sabedoria e mais instrumentos”, discursou ela no Palácio do Planalto, durante solenidade do Dia Mundial do Meio Ambiente. “Quem aposta na crise, como há quatro anos, vai perder de novo”, desafiou Dilma, prometendo não deixar o Brasil perder o rumo do equilíbrio fiscal. Segundo ela, nos próximos meses o Brasil voltará a crescer sem prejuízo das políticas sociais.

Sob essa diretriz, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) anunciou ontem corte de juros de financiamento a empresas e a Caixa Econômica Federal, por sua vez, promoveu nova rodada de redução de taxas para o setor habitacional, com prazos de 35 anos. Nos próximos dias deverão surgir também outras medidas de mais longo alcance e impacto na produtividade industrial, como a desoneração nas tarifas de energia, e a unificação do PIS e da Cofins, para simplificar o pagamento de impostos. Em paralelo, haverá esforço coordenado para intensificar obras em rodovias e aeroportos. Para tratar desse tema, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hofmann, reuniu-se ontem com os colegas das pastas de Transportes e Aviação Civil, além dos correspondentes presidentes das estatais de cada área.

No primeiro dia útil depois da divulgação de que a economia brasileira cresceu só 0,2% no primeiro trimestre, Dilma convocou os ministros Guido Mantega (Fazenda), Fernando Pimentel (Desenvolvimento), Miriam Belchior (Planejamento) e Gleisi Hoffmann e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Ela pediu que agilizassem investimentos coordenados por suas pastas. A presidente incluiu também na frente de trabalho os ministros Aloizio Mercadante (Educação), para discutir formas de tirar da gaveta os estímulo à inovação, e Alexandre Padilha (Saúde), para tratar de compras governamentais e produção nacional de medicamentos.

O governo ainda estuda redução de tributos que oneram investimentos privados e formas de facilitar a renegociação de dívidas de consumidores com bancos, para reduzir o elevado nível de calotes. De olho em resultados rápidos, a presidente aposta também nos desdobramentos do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida e no projeto de renovação de concessões de energia, a ser editado este mês. “As medidas estão sendo tomadas e ainda temos arsenal de providências que serão adotadas quando necessárias”, enfatizou a presidente.

“O leque de medidas anunciado pelo governo está correto. O problema é que elas não estão devidamente amparadas por um plano de desenvolvimento de longo prazo”, comentou Victor Leonardo de Araújo, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Para ele, o ideal seria canalizar parte do superávit nas contas da União para infraestrutura, embora reconheça a existência de entraves para tocar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Capital de giro Apesar de concentrar 90% de sua carteira de financiamentos no longo prazo, o BNDES anunciou ontem expressivo corte de seus juros. A taxa anual do programa de financiamento de capital de giro (Progeren) cobrada de micro e pequenas empresas recuou de 9,5% para 6% e para 6,5% no caso das médias. Para as de maior porte, a redução foi de 10% para 8%. “O momento de incerteza em relação à economia global leva a um natural movimento de aversão ao risco no sistema financeiro. Neste sentido, o foco está na indústria de médio porte, a mais sensível à concorrência externa”, disse Luciano Coutinho, presidente do BNDES, ao anunciar a nova tabela.

O Progeren tem orçamento de R$ 14 bilhões, dos quais R$ 11 bilhões para pequenas e médias empresas, e vai até 31 de dezembro de 2013. Coutinho reconhece que o programa “não resolve o problema da competitividade da indústria, que sofre com custos, carga tributária, taxas de câmbio, dificuldades de logística”, mas “vai ajudar a atravessar o período difícil que o setor vem atravessando”.

 

Apoio com exigência

 

São Paulo e Brasília – As primeiras medidas do governo para estimular os investimentos e acelerar o crescimento econômico foram bem recebidas pelo setor produtivo. Mas as indústrias cobram alteração no sistema tributária para que país volte a crescer. Mesmo considerando benéfico o corte das taxas de capital de giro para empresas, anunciada pelo BNDES, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) defende que uma folga no capital de giro das empresas seria mais favorecida se houvesse alterações no recolhimento de tributos. “Além do corte de taxas, o governo deveria promover aumento no prazo de recolhimento de impostos. Isso é mais eficiente, prático e democrático”, afirmou Paulo Skaf, presidente da Fiesp.

Segundo a entidade, ao ampliar o prazo para as empresas pagarem PIS/Cofins, IPI, INSS ou mesmo Imposto de Renda, o governo garantiria maior liquidez para todos os tipos de empresas e estimularia a economia de forma generalizada. A Fiesp diz ainda que, com a piora da crise externa e a incerteza sobre seus efeitos na economia local, é natural que os bancos fiquem mais seletivos na oferta de crédito para as empresas, especialmente as micro, pequenas e médias. Assim, embora o BNDES libere dinheiro para empréstimos a custo mais baixo, os bancos que atuam na concessão para o tomador final não necessariamente liberam os recursos, e mesmo quando concedem o empréstimo, a taxa mais baixa pode ser anulada por um spread alto.

A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) espera que os bancos acompanhem a iniciativa do BNDES e repassem a redução de taxas de financiamento para giro de capital para as empresas. Gilberto Poleto, diretor da área de financiamento da Abimaq, avalia que a iniciativa do banco de fomento é relevante e deve ajudar a aumentar a competitividade e os investimentos nesse momento mais delicado da economia.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica, Luís Afonso Lima, o ambiente de negócios deverá registrar alguma melhora a partir da redução da taxa de juros na principal linha de crédito do BNDES para financiar capital de giro das empresas. “É um fator positivo, porém não pode ser isolado. Consegue melhorar o ambiente de negócios e investimentos porque o custo do capital no Brasil, se comparado com outros países que pagam menos juros, é muito alto. Mas precisamos de outras medidas”, ponderou o presidente da Sobeet.

Ele bate na tecla de que o país precisa reduzir a carga tributária e simplificá-la. “Na gestão Lula, não avançamos nada. Não só no tamanho da carga tributária como na complexidade”, disse Lima. Já a indústria automobilística é favorável à reforma no modelo de cobrança da Cofins e do PIS que está em estudo na equipe econômica. O primeiro-vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan Yabiku Júnior, disse que a medida, se implementada, aumentará a competitividade da indústria. “Somos absolutamente favoráveis. Toda simplificação tributária que proporcione crédito é altamente importante para o país”, disse Moan.

 

Indústria volta a  ter queda

 

Brasília – A atividade industrial voltou a apresentar queda em abril depois de uma leve recuperação no mês anterior, segundo indicadores divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O emprego teve uma queda de 0,6% em abril, a maior desde abril de 2009. Já as horas trabalhadas caíram 0,6% e a capacidade instalada recuou 0,5 ponto percentual. “Desde a crise de 2008 a produção industrial não consegue se recuperar. Não é que a economia esteja desaquecida, é que os produtos industriais brasileiros sofrem concorrência dos importados. Então, parte desse aumento de demanda tem ido para os importados e com isso a indústria sofre as consequências”, disse o economista da CNI, Marcelo de Ávila.

Em relação às medidas de incentivo à indústria e ao consumo interno adotadas pelo governo Dilma Rousseff, o economista afirmou que elas foram “medidas emergenciais de consumo” e que são semelhantes às que foram adotadas em 2008. Segundo Ávila, ainda podem ser feitas medidas para aumentar a competitividade do setor industrial.

O único índice que não teve queda em relação ao mês anterior foi o faturamento real, que registrou crescimento de 0,2%. Esse foi o terceiro mês seguido em que o faturamento apresentou crescimento. Segundo a CNI, parte desse aumento do faturamento se deve ainda aos altos estoques do setor. “Os estoques continuam acima do planejando, mas a gente acredita que isso é um fator de curto prazo. (...) Porém, o excesso de estoque indesejado terá de ser desovado primeiro e aí a produção voltará a crescer”, afirmou o economista.

Otimismo O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, declarou que a economia brasileira deve se acelerar a partir do segundo semestre deste ano. “Hoje, já percebemos um ritmo de atividade maior no segundo trimestre do que no primeiro trimestre”, exemplificou. 

 Fonte: Estado de Minas e Correio Braziliense

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