Candidatos declaram ter até R$ 688 mil `debaixo do colchão´

09 de Agosto de 2012 às 09:28
por: Guilherme Reis
Pelo menos 29 candidatos a prefeitura de cidades mineiras com mais de 50 mil eleitores declaram à Justiça Eleitoral terem entre R$ 10 mil e R$ 688 mil em espécie, ou seja, dinheiro que não está guardado em nenhuma instituição financeira. A prática de guardar "dinheiro vivo" também é adotada por seis vereadores candidatos à reeleição em Belo Horizonte.

O candidato à Prefeitura de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, Getúlio Neiva (PMDB) é o que mais guarda dinheiro vivo. O ex-deputado estadual está em posse de R$ 688 mil. O segundo colocado no quesito é o candidato à Prefeitura de Pará de Minas e deputado estadual Antônio Júlio (PMDB), que armazena R$ 435 mil.

Em Ouro Preto, região Central do Estado, o candidato ao Executivo Zé Leandro (PSDB) informou ter em espécie R$ 308 mil. O tucano acredita que a comodidade é o principal fator para que ele não coloque recursos em um banco. "Eu sempre guardei dinheiro comigo, é um hábito. Gosto de ter recursos ao meu dispor".

Em Contagem, na região metropolitana da capital, o deputado estadual e candidato à prefeitura Carlin Moura (PCdoB) declarou ter R$ 200 mil em espécie. Para o comunista, a quantia não sugere problemas. "Essa época do ano a gente movimenta muito dinheiro, então é muito mais fácil ter um pouco comigo". O candidato diz não ter medo da violência ao declarar o montante. "Eu trabalho com comércio e estou sujeito a isso. Realmente falta segurança no Brasil", justificou.

Vereadores. Para o vereador da capital Joel Moreira Filho (PTC), que tenta a primeira reeleição, "não é proibido ter dinheiro em espécie". Ele guarda R$ 60 mil em dinheiro e preferiu não dizer se o montante está em um cofre. Já o vereador Sérgio Fernando (PV) afirmou que, dos R$ 75 mil que declarou em espécie, parte está no banco.
O vereador da capital que mais tem "dinheiro vivo" em seu poder é Edinho do Açougue (PTdoB), que tem R$ 100 mil. O parlamentar não foi encontrado para comentar o fato.

Um fato curioso é que o vereador Autair Gomes (PSC) declarou ter R$ 80 mil em moeda estrangeira. Ele também não foi localizado.
Atitude pode gerar suspeitas
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Especialistas em direito tributário e finanças pessoais ouvidos por O TEMPO alertam que guardar muito dinheiro em casa pode ser um sinal de irregularidade, já que, nem sempre, é possível comprovar a origem dos valores.

O advogado tributarista Evandro Toscano diz que quem adota esta prática deve declarar os recursos à Receita Federal. "No caso dos candidatos, eles precisam declarar o mesmo dinheiro que declararam no Imposto de Renda. Se as quantias não baterem, eles terão que justificar a discrepância, que sugere indícios de atividade ilegal", explica.

Mesmo que a origem do dinheiro seja legal, guardar valores em espécie vai na contramão do que aconselha a educação financeira. Segundo o economista e consultor financeiro Ofir Viana, dinheiro parado significa perda do valor. "Deixar dinheiro em casa é a pior escolha para quem tem algum montante. O pior investimento em rendimento – a poupança – é melhor do que deixar o dinheiro parado. Ela garante ao investidor segurança e rendimento. Não faz sentido guardar dinheiro em baixo do colchão".

O presidente da Comissão de Direito Eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB), Rodolfo Viana, acredita que a declaração do candidato à Justiça Eleitoral de que tem dinheiro em espécie pode ser considerada um sinal de honestidade. "Eu acho louvável que um candidato tome essa atitude. Ele está mostrando para o eleitor que não quer esconder o que tem". (GR)
Fonte: O TEMPO

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