Homens estão ocupando cada vez mais empregos "femininos"

06 de Junho de 2012
por: SHAILA DEWAN E ROBERT GEBELOFF

Nova York, EUA. Com seu avental com uma cor entre o rosa e o vermelho e conversando em espanhol, Miguel Alquicira assentou uma garota pequenina em uma cadeira de dentista feita para adultos e a acalmou com umas imagens de raio X. Então, ele acompanhou a dentista, uma mulher, até o consultório e sentou-se no canto, para servir como intérprete.

Como assistente de dentista, Miguel Alquicira é uma minoria. Mas ele também é parte de uma mudança distinta, apesar de pouco notada, nos padrões de gênero em determinados tipos de emprego. Na última década, os homens têm, cada vez mais, adentrado em campos profissionais que são, tradicionalmente, dominados pelas mulheres.

Alquicira, 21, formou-se no ensino médio e se deparou com um mercado de trabalho desolado, em que as oportunidades tradicionais, como construção e manufaturas, estavam desaparecendo, principalmente para jovens do sexo masculino que não tivessem um diploma universitário.

Após os orientadores de carreira da escola terem lhe dito que os campos médicos estavam se expandindo, o jovem decidiu pegar dinheiro emprestado e investir em um curso de oito meses de treinamento.

Desde então, ele não tem tido problemas para encontrar um emprego que pague cerca de US$12 ou US$13 por hora.

Alquicira nem sequer considerou o fato de cerca de 90% dos assistentes de dentistas e outras profissões relacionadas à saúde serem mulheres.

Afinal, jovens da geração de Miguel nasceram em um mundo em que as expectativas se inverteram, onde mulheres são mais rápidas que os homens para obterem diplomas universitários e têm, cada vez mais, a tendência de ficarem em empregos mais estáveis e com mais chances de crescimento.

Futuro. Se considerarmos que esses "empregos femininos" foram impulsionados pela recessão mundial, é possível pensar que a mudança possa ser reversível, num futuro de economia não muito longínquo. "Os garotos de hoje estão dizendo ‘quero ser um enfermeiro’ ou ‘quero um emprego estável?’", questiona Heather Boushey, economista sênior do Centro para o Progresso Norte-americano.

Contudo, em entrevistas realizadas durante a produção desta reportagem, cerca de duas dúzias de homens afirmaram que a economia não tem tanto a ver com a escolha da profissão. Eles explicam que o estigma associado à escolha dos empregos já desapareceu e que os empregos são atrativos não porque oferecem estabilidade, mas porque trazem maior satisfação pessoal.

Após anos de crise econômica, os norte-americanos, por exemplo, continuam sendo um grupo otimista, apesar de definirem o "sonho americano" não mais como mansões luxuosas e automóveis caros, mas como algo mais básico - uma casa, um diploma universitário e segurança financeira. Essa segurança financeira significa um emprego com benefícios, algo que tem se tornado raro no país, particularmente para homens e para aqueles que não possuem um diploma universitário.

Enquanto mulheres continuam traçando seus caminhos para empregos de prestígio, profissões de altos salários, geralmente dominadas por homens, mais eles estão apelando para o sonho em um emprego dominado por mulheres, algo que seus pais provavelmente nunca teriam considerado.

Fonte: The New York Times

Traduzido por Luiza Andrade.

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