Rotatividade no trabalho começa a dar trégua no país
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Desaquecimento nos canteiros de obras é mais um motivo para Manoel carneiro não mudar de empresa |
“Isso é uma realidade que tenho ouvido das empresas. O mercado deu uma mudada este ano”, afirma Hegel Botinha, diretor comercial do Grupo Selpe, empresa especializada em recrutamento. A queda na atividade econômica em setores-chave da economia mineira, como siderurgia, construção civil e indústria automobilística, podem justificar o menor dinamismo. “Algumas empresas adiaram planos, seguraram alguns projetos e os profissionais, por sua vez, começam a pensar mais antes de se desligar”, observa Hegel.
Menos investimentos significam menores oportunidades de carreira e, por consequência, redução da atratividade de outros cargos. Com exceção de abril – quando a taxa de rotatividade de 4,02% superou a do mesmo mês de 2011 (3,86%) –, em todos os demais meses de 2012 o turn over na indústria de transformação registrou índices inferiores aos do ano passado, reflexo da perda de ritmo do setor.
Para Adriana Prates, presidente da Dasein – empresa de recrutamento de executivos –, se comparado ao ano passado, é nítida a redução do troca-troca. “No segundo trimestre houve uma queda de 20% a 30% nessa mobilidade ante o mesmo intervalo de 2011”, avalia. O desempenho foi motivado pelo recrudescimento da crise nos países europeus e desaceleração nos asiáticos, segundo análise da especialista. “Os investidores reagiram e travaram”, conta.
REVIRAVOLTA E não são apenas as funções mais qualificadas que registraram essa reviravolta. Nenhum setor sentiu tanto a queda da rotatividade quanto a construção civil. Em Minas Gerais, a atividade alcançou em junho o menor patamar de rotatividade para o mês desde 2004. O resultado também foi puxado pela retração do mercado. Segundo os últimos dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG), o número de unidades lançadas entre janeiro e maio de 2012 foi 23,4% inferior ao registrado nos cinco primeiros meses de 2011, enquanto as vendas caíram 15,8% no período.
Somados a esse fator estão os efeitos das ferramentas criadas pelas empresas para reter a mão de obra. “Em geral, ainda temos um turn over alto, mas que tem se reduzido. Em uma grande obra, com cerca de 600 funcionários, conseguimos reduzir a taxa em três pontos percentuais no último semestre”, afirma a coordenadora de RH da Construtora Masb, Henriqueta Chaves. Apesar de atingir a casa dos 8% no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o que não ocorria há oito anos, a taxa de rotatividade da construção ainda é a maior entre os oito segmentos econômicos pesquisados pelo Ministério do Trabalho, o que confirma a percepção de Henriqueta, que calcula uma média de permanência na vaga de apenas seis meses.
Há um ano na empresa, o pedreiro Manoel Mateus Carneiro reconhece que o benefício dado pela empresa o incentiva a ficar. “Já ganhei duas vezes R$ 60 extras, que usei para comprar verduras e carne para casa”, conta. O mercado, porém, continua aquecido e ele espera novos benefícios da empresa, como auxílio para capacitação, como mais um estímulo. “Quero fazer curso de encarregado de obra”, planeja.
Seleção demorada e apurada
Outro efeito de curto prazo foi a ampliação do tempo de contratação, que ajuda a justificar uma rotatividade mais contida. Segundo Sócrates Melo, responsável pela operação da Robert Half – empresa de recrutamento de média e alta gerência – em Minas , se antes se levava dois meses para selecionar o profissional, hoje chega a superar os três meses. “De maio para cá observamos esse cenário muito motivado pela insegurança quanto ao futuro da economia, o que leva a uma cautela maior das empresas quanto a investimentos e contratações”, observa.
As fases de seleção foram ampliadas, passando de apenas duas etapas, na maioria dos casos, para as atuais cinco. “Antes era apenas uma conversa com o RH e gerente da vaga. Agora inclui ligações para o exterior, teste psicológico e mais etapas de entrevista”, afirma. Para Sócrates Melo, o mercado está finalmente se estabilizando, com empresas mais interessadas em acertar nas escolhas. “Está se colocando o pé no chão. O que faz com que, comparada ao ano passado, a rotatividade atinja níveis menores”, analisa.
O que não significa que as dificuldades de contratação de mão de obra estejam extintas. “As pessoas ainda mudam de emprego numa velocidade interessante”, avalia Sócrates Melo. Cenário que deve se intensificar nos próximos meses, revertendo o comportamento do primeiro semestre, na avaliação da presidente da Dasein, Adriana Prates. “Entramos agosto com uma movimentação grande, com perspectivas bem mais animadoras, o que deve voltar a pressionar os índices de rotatividade”, pondera.
A cautela, porém, vai dominar o processo que, até então, era altamente dinâmico. “Os executivos, assim como as empresas, estão mais seletivos e não querem dar um passo errado. Não mudam mais apenas por mudar”, afirma. Conhecimento mais amplo da empresa, situação econômica e avaliação do crescimento estão entre os quesitos observados antes de concretizada a troca. (PT)
Enquanto isso...
…serviços antêm ritmo
Responsável por 45% das vagas criadas no primeiro semestre – 469,7 mil do 1,048 milhão –, o setor de serviços continua registrando taxas de expansão na rotatividade. O resultado de junho (4,18%) supera os 3,99% registrados no mesmo período do ano passado.
Fonte: Estado de Minas