Sócio da empresa responsável pela construção de prédio que caiu será cidadão honorário
A Câmara de Belo Horizonte concede no próximo dia 1º o título de cidadão honorário a José Rodrigues Teixeira, um dos sócios da Estrutura, Engenharia e Construções – responsável pelas obras do Edifício Vale dos Buritis, imóvel que desabou em 10 de janeiro deste ano. A homenagem, prestada a pedido do vereador Paulinho Motorista (PSL), tem como justificativa os “ 30 anos de serviços prestados” à capital no setor da construção civil.
De acordo com o parlamentar, ele mora em um apartamento na Serra construído pela Estrutura, Engenharia e Construções e nunca teve qualquer problema no imóvel. “O que aconteceu no Buritis foi uma fatalidade. A gente não pode punir uma pessoa. Deus e o Judiciário é que julgam”, argumentou Paulinho Motorista, que contou ter recolhido a assinatura de todos os líderes da Casa para apresentar o requerimento para conceder o título de cidadão honorário ao engenheiro.
As alegações do vereador não convenceram os moradores do Buritis, que prometem protestar nas galerias da Câmara no dia marcado para o evento. “Esse título depõe contra a Câmara Municipal. É um despropósito e uma afronta”, afirmou a presidente da Associação dos Moradores do Buritis, Fátima Gottschalg.
O Vale dos Buritis foi o mais afetado por problemas estruturais entre quatro unidades interditadas no bairro e vinha desabando aos poucos, desde a última semana de 2011. A janela e parte da parede do primeiro andar já não existiam no dia do desabamento e um grande buraco podia ser visto na fachada. No dia anterior a Justiça já havia determinado a demolição do imóvel, que ficava na Região Oeste da capital. A decisão do juiz Alexandre Quintino Santiago, da 16ª Vara Cível, seguiu recomendação de peritos, do município e da Defesa Civil.
Na ocasião, a Estrutura Engenharia e Construção divulgou nota lamentando o desabamento e reafirmando que os problemas que se estenderam a edificações vizinhas e à via pública foram causados pela saturação do subsolo por excesso de água. “As causas das trincas que atingiram o edifício Vale dos Buritis e outros imóveis próximos – que foram construídos em épocas distintas e por construtores diferentes – são completamente estranhas à atuação da empresa e ao processo construtivo do prédio, que foi concluído e entregue há mais de 15 anos”, afirmou a empresa.
Memória - Quinze anos de problemas
Construído em 1996 pela Estrutura Engenharia e Construção Ltda, o edifício Vale dos Buritis já apresentava problemas como rachaduras e trincas desde o ano seguinte, segundo os moradores. Em 2010, após desentendimento entre os donos dos apartamentos e a construtora, por causa de uma obra inacabada de reforço da fundação, os moradores entraram com um processo na Justiça pedindo a reparação dos danos. Em 22 de outubro de 2011, a Defesa Civil (Comdec) interditou o prédio depois de comprovar o agravamento das rachaduras. Em 10 de janeiro, o prédio desabou, e os moradores, agora reivindicam o ressarcimento do patrimônio perdido. Segundo laudo da Sudecap, o desmoronamento foi causado por um corte no terreno aos fundos feito pela Podium Engenharia, empresa responsável pelo Condomínio Art de Vivre. Já o perito indicado no processo judicial afirmou que houve falha estrutural do prédio, que não pôde ser identificada pela ausência do projeto original de fundação. Além disso, ele apontou a inclinação do terreno, o recorte no barranco aos fundos, a falta de drenagem na rua e as chuvas como responsáveis pelo desabamento. Ainda não houve decisão judicial depois que o laudo ficou pronto.
Fonte: Estado de Minas