Nas cem maiores cidades, há 10 milhões sem banheiro

17 de Agosto de 2012 às 12:04
 
São Paulo. A universalização do saneamento básico, uma das principais promessas em período de campanha eleitoral, está longe de ser alcançada no país. A última edição do levantamento do Instituto Trata Brasil, divulgada ontem, mostra que 63,72% do esgoto gerado nas cem maiores cidades do país, em 2010, não passou por tratamento adequado. "O Brasil ainda tem 10 milhões de brasileiros sem acesso a banheiro digno, o que é motivo de vergonha para um país que quer ser desenvolvido", disse Édison Carlos, presidente da entidade.

O total de efluentes despejados nos rios e mares, por dia, chegou a cerca de 8 bilhões de litros, o que equivale ao volume de 3.200 piscinas olímpicas. A pesquisa apontou ainda que 40% da população dos maiores municípios (31 milhões de pessoas) não têm acesso à coleta de resíduos.

No ranking de saneamento básico promovido pela entidade, a segunda cidade mais rica do país, o Rio de Janeiro, ficou na 37ª posição, com um índice de coleta de esgoto de 70,12% da população.
A capital fluminense ficou atrás de outras capitais, como Brasília (11ª), Curitiba (12ª), São Paulo (18ª) e Salvador (32ª). Do total de cem municípios consultados, um terço informou índices de coleta de esgoto superiores a 80% da população.

Dentre as primeiras posições do ranking, com 100% de coleta de resíduos, estão Belo Horizonte, Santos (SP), Jundiaí (SP), Piracicaba (SP) e Franca (SP). Outro um terço do total, por sua vez, apresentou percentuais entre 0% e 40%, como Macapá (AP), Porto Velho (RO) e Belém (PA).

A pesquisa apontou ainda que, em média, os cem maiores municípios investiram em 2010 apenas 28% de sua receita em obras de saneamento básico. A maioria deles (60%) não empregou nem 20% de sua receita para aumentar a coleta de resíduos.

O levantamento do Trata Brasil demonstra um cenário diferente em relação à oferta de água tratada no país. Em 2010, 90,94% da população das maiores cidades tiveram acesso à água tratada - 70 milhões de pessoas. O índice foi superior à média nacional, medida pelo Ministério das Cidades, que foi de 81,1%. (Com Joelmir Tavares)



Minientrevista. "O Brasil precisa abrir os olhos".
Presidente executivo do Instituto Trata Brasil
Houve avanços na área do saneamento no país? A passos lentos. O governo quer resolver os problemas até 2030. Mas, dos R$ 14 milhões que deveriam ser investidos por ano para alcançar a meta, só R$ 8 milhões têm sido empregados.

Isso pode comprometer o objetivo final?   Sim. Já trabalhamos com a possibilidade de que a meta seja atingida só em 2050.

Qual é a situação de Minas? Ao lado de São Paulo, é um dos Estados que mais têm evoluído. O mais urgente agora é priorizar o tratamento de esgoto, que ainda é baixo.

Por que o saneamento ainda não é visto como prioridade? Primeiro, pela baixa mobilização dos cidadãos, que não cobram melhorias nessa área como deveriam. Segundo, por falta de vontade política. Muitos governantes acreditam que investir em água e esgoto não dá voto.

As deficiências comprometem o desenvolvimento do Brasil?  Elas explicam, em boa parte, por que o país não evolui no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Só aumento da renda não basta para crescermos no IDH. O Brasil precisa abrir os olhos para a questão do saneamento, que envolve, além de meio ambiente, saúde e bem-estar das pessoas. (JT)
Em MG, 26% do esgoto é tratado
O maior desafio de Minas Gerais é aumentar o percentual de esgoto tratado. Em 2010, último ano em que os dados foram levantados, só 26% da população do Estado era atendida pelo serviço. A coleta de efluentes abrangia 63% dos mineiros e a água tratada chegava a 86%.

Uberlândia, no Triângulo, cidade mineira com a melhor colocação no estudo divulgado ontem pelo Trata Brasil – quarto lugar no ranking –, tinha 78% do esgoto tratado. A empresa municipal de saneamento gastou R$ 200 milhões em melhorias desde 2005.

Além dos investimentos, o prefeito Odelmo Leão (PP) atribui a boa colocação a leis municipais que obrigam empresas a destinarem parte do lucro para o saneamento da cidade. "Água e esgoto têm que ser vistos como política de governo", diz.

Belo Horizonte aparece na 16ª colocação, com 100% do esgoto coletado e 55% tratado. Mas a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), que cuida dos serviços na cidade, afirma que o índice de tratamento subiu de 2010 para cá e hoje é de 84%.

Ao contrário do que demonstra o índice de coleta, ainda há casas sem ligação com a rede de esgoto. A Copasa admite o problema e culpa as ocupações irregulares e a resistência de parte da população.

"Não podemos construir redes em áreas invadidas ou sem urbanização", afirma o superintendente de serviços e tratamento de efluentes da região metropolitana, Eugênio Lima e Silva. "E também há quem prefira lançar o esgoto no córrego ou rede pluvial a pagar pelo serviço".

A Copasa, que opera o serviço de água em 72% dos municípios do Estado e o de esgoto em 25%, colocou como meta oferecer os dois serviços a 95% dos moradores até 2025 nas cidades onde atua. (Joelmir Tavares)
Fonte: O TEMPO

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