Maioria dos candidatos tem dificuldades para arrecadar doações de campanha

03 de Setembro de 2012
por: Leandro Kleber

Maioria dos que tentam se eleger prefeito ou vereador nesta eleição não recebeu nem R$ 1 de doação para custear gastos de campanha

 

Somente um em cada quatro candidatos a prefeito ou vereador espalhados pelo país recebeu doações para tocar a campanha eleitoral deste ano. Isso é o que mostra levantamento feito pelo Estado de Minas com base na primeira prestação de contas entregue pelos candidatos à Justiça Eleitoral. Dos 437 mil candidatos aptos à disputa nas urnas em 7 de outubro, somente 124 mil (28%) foram contemplados com doações de empresas, pessoas físicas ou mesmo com recursos repassados por padrinhos políticos, partidos ou comitês financeiros. O restante dos candidatos, pouco mais de 313 mil (72%), não declarou qualquer receita na primeira parcial de contas para custear despesas com água, alimentação, combustível, comícios, sites e material gráfico, entre outras.

De acordo com os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os 124 mil candidatos receberam R$ 395,2 milhões para fazer suas campanhas. Muitos, inclusive, se bancaram. No total, eles investiram do próprio bolso pelo menos R$ 134 milhões, o que representa 34% do total arrecadado por eles. A segunda parcial da prestação de contas terminou ontem. O TSE tem até o dia 6 para divulgar os resultados.

As reclamações sobre as dificuldades para encontrar doadores de campanha, recorrente nas eleições deste ano são um dos fatores que podem explicar essa situação. Antes de fechar a primeira parcial de contas, o presidente do PT em São Paulo, deputado estadual Edinho Silva, admitiu que o partido – o segundo que mais recebeu doações este ano, atrás apenas do PMDB – estava com dificuldades para arrecadar fundos para as eleições. Ele atribuiu a fraca arrecadação ao ambiente negativo do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF) e à CPI do Cachoeira no Congresso Nacional.

Para o cientista político da consultoria Arko Advice, Cristiano Noronha, o julgamento do mensalão pode ter afastado os doadores de campanha. Mas ele não acredita que esse seja o principal motivo pela falta de verba neste ano. “O Brasil não vive um bom momento econômico. A disponibilidade de caixa das empresas para financiar campanhas eleitorais vai para uma prioridade baixa”, afirma. Ele ressalta também que muitas pessoas que disputam uma cadeira nas câmaras municipais são novatas e aventureiras. “Sem projeção e nomes expressivos, não há interesse das empresas em financiar. As campanhas a vereador não atraem o grande empresariado, ao contrário das pessoas expressivas”, diz.

Segundo ele, nas eleições municipais as doações são destinadas maioritariamente aos candidatos a prefeito. “Não havendo interesse em financiar vereador, a sua campanha acaba sendo feita por muita ajuda de cabos eleitorais e amigos, que acabam se mobilizando. Por isso, há chances de haver recursos não contabilizados (na prestação de contas). Boa parte dessas doações não é oficial”, avalia. A tese de que os mais conhecidos atraem a atenção dos doadores pode ser observada em casos como os dos candidatos a vereador em São Paulo Aguinaldo Timotheo (PR), que declarou ter recebido R$ 13,4 mil – sendo R$ 8,4 mil do próprio bolso –, e do ex-ministro do Esporte Orlando Silva (PCdoB), que também disputa uma vaga para a Câmara Municipal de São Paulo, e afirma ter recebido R$ 16 mil, sendo R$ 11 mil encaminhados pelo próprio partido.

Porém, o raciocínio tem suas exceções. O candidato a vereador no Recife (PE) pelo PPS Raul Jungmann, por exemplo, que já foi ministro no governo Fernando Henrique Cardoso e deputado federal, não recebeu nenhum centavo para tocar a sua campanha. Segundo Jungmann, isso se deve ao atraso em definir a sua candidatura a vereador. “Como eu era candidato a prefeito, na última hora não continuei e mudei para vereador, a campanha já tinha efetivamente começado. Entrei na categoria dos chamados remanescentes. Tive de renegociar todo os apoios. Isso fez com que eu só colocasse a campanha na rua recentemente. Para isso, fiz um empréstimo de R$ 50 mil. Na segunda prestação de contas terá as doações, que já começaram a pingar”, argumenta.

POBREZA
Para o coordenador do Núcleo de Estudos em Gestão Pública da Universidade de Brasília, João Paulo Machado Peixoto, a falta de recursos para a maioria dos candidatos espalhados pelo Brasil é de certa forma natural, pois a maioria dos municípios brasileiros é pobre. Porém, segundo o professor, é curioso que os partidos ainda não tenham contribuído para alavancar a campanha de seus candidatos. “Vemos que os candidatos são deles próprios. Eles não têm capacidade de organizar o comitê financeiro, como em São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, entre outras cidades grandes. Por isso, deveriam ser alimentados pelos partidos, por menos que seja a quantia. Os deputados e senadores, por exemplo, conseguem recursos para os seus candidatos”, afirma. Ele ressalta, entretanto, que ninguém faz campanha sem dinheiro, por mais pobre que seja o município. “Algum dinheiro tem de ter, até para fazer cartazes e santinhos, gastar com gasolina etc”, diz, lembrando a possibilidade de haver dinheiro não contabilizado oficialmente.

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