Falta de controle aumenta risco
14 de Setembro de 2012
por: Luciene Câmara
Para especialistas, deficiências ajudam na proliferação da bactéria KPC
A notícia sobre a proliferação da superbactéria KPC - uma das mais resistentes a antibióticos do mundo e também das mais nocivas - corre pelos corredores do Hospital Regional de Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte. Enquanto o perigo segue invisível, o medo é declarado por funcionários, pacientes e familiares. Alguns reclamam da falta de controle, estrutura e higiene do local, o que, na opinião de especialistas, aumenta o risco de transmissão da bactéria.
A reportagem de O TEMPO recebeu depoimentos e fotos de funcionários que dizem viver em meio a um surto da bactéria. "Só não temos essa constatação porque nem todos os pacientes são submetidos ao exame que confirma o contato", declarou um técnico em enfermagem, que pediu para não ser identificado. Segundo ele, o segundo andar do hospital, onde funcionam duas alas de enfermaria, está tomado por casos de contaminação. "Já fechamos uma ala para isolamento e a outra também tem casos de KPC", disse.
Outra funcionária, que também não quis ser identificada, afirmou que no quinto andar a situação é a mesma. "Temos um alto índice de paciente infectados por diversas bactérias, inclusive a KPC", afirmou. Para ela, a proliferação da KPC se deve à falta de estrutura. "Trabalhamos sem materiais para uma assistência segura, tanto para os pacientes como para nós, funcionários".
Deficiências. Na lista de reclamações feitas pelos trabalhadores de saúde, estão questões como a limpeza precária dos ambientes. "Já presenciei baratas, formigas, ratos e mosquitos no hospital", comentou o técnico em enfermagem.
O infectologista Guilherme Augusto Armond, presidente da Associação Mineira de Epidemiologia e Controle de Infecções (Ameci), explicou que insetos e animais podem servir como portadores e transmissores de bactérias e outras doenças, como a leptospirose, transmitida pelo rato.
A sujeira nos móveis e no chão também merece alerta, já que são ambientes de reprodução de fungos e bactérias. O técnico em enfermagem afirmou que muitos móveis não passam por limpeza por estarem velhos e enferrujados.
Outro problema, de acordo com as denúncias, seria a falta de materiais de trabalho, como luvas, gases e esparadrapo. Faltariam também aparelhos com mais recursos, dentre eles, laringoscópio,desfibrilador e monitor cardíaco. "Somos obrigados a fazer gambiarras em varais com mangueiras para levar oxigênio até o paciente que necessita", disse o profissional.
Nesse caso, os próprios equipamentos podem servir de meio transmissor, de acordo com especialistas. "Cabe à comissão de controle de infecção do hospital observar esses problemas e capacitar os profissionais. Esse deve ser o ‘be-a-bá’ dentro das instituições", ressaltou o infectologista Guilherme Augusto Armond.
Profissional da mesma área, Estevão Urbano Silva, membro da Sociedade Mineira de Infectologia (SBI), orientou que, diante de um caso de KPC, a atenção e os cuidados devem ser redobrados. "Se há rigor no controle, o risco de proliferação diminui", completou.
Hospital. A Prefeitura de Betim e a diretora do Hospital Regional de Betim, Adriana Diniz de Deus, negaram todas as denúncias dos funcionários. Segundo os dois, 133 funcionários de uma empresa terceirizada fazem a limpeza da unidade diariamente, seguindo todas as normas de higiene. Sobre a estrutura, o órgão alega que novos equipamentos foram adquiridos recentemente para urgência e emergência.
A reportagem de O TEMPO recebeu depoimentos e fotos de funcionários que dizem viver em meio a um surto da bactéria. "Só não temos essa constatação porque nem todos os pacientes são submetidos ao exame que confirma o contato", declarou um técnico em enfermagem, que pediu para não ser identificado. Segundo ele, o segundo andar do hospital, onde funcionam duas alas de enfermaria, está tomado por casos de contaminação. "Já fechamos uma ala para isolamento e a outra também tem casos de KPC", disse.
Outra funcionária, que também não quis ser identificada, afirmou que no quinto andar a situação é a mesma. "Temos um alto índice de paciente infectados por diversas bactérias, inclusive a KPC", afirmou. Para ela, a proliferação da KPC se deve à falta de estrutura. "Trabalhamos sem materiais para uma assistência segura, tanto para os pacientes como para nós, funcionários".
Deficiências. Na lista de reclamações feitas pelos trabalhadores de saúde, estão questões como a limpeza precária dos ambientes. "Já presenciei baratas, formigas, ratos e mosquitos no hospital", comentou o técnico em enfermagem.
O infectologista Guilherme Augusto Armond, presidente da Associação Mineira de Epidemiologia e Controle de Infecções (Ameci), explicou que insetos e animais podem servir como portadores e transmissores de bactérias e outras doenças, como a leptospirose, transmitida pelo rato.
A sujeira nos móveis e no chão também merece alerta, já que são ambientes de reprodução de fungos e bactérias. O técnico em enfermagem afirmou que muitos móveis não passam por limpeza por estarem velhos e enferrujados.
Outro problema, de acordo com as denúncias, seria a falta de materiais de trabalho, como luvas, gases e esparadrapo. Faltariam também aparelhos com mais recursos, dentre eles, laringoscópio,desfibrilador e monitor cardíaco. "Somos obrigados a fazer gambiarras em varais com mangueiras para levar oxigênio até o paciente que necessita", disse o profissional.
Nesse caso, os próprios equipamentos podem servir de meio transmissor, de acordo com especialistas. "Cabe à comissão de controle de infecção do hospital observar esses problemas e capacitar os profissionais. Esse deve ser o ‘be-a-bá’ dentro das instituições", ressaltou o infectologista Guilherme Augusto Armond.
Profissional da mesma área, Estevão Urbano Silva, membro da Sociedade Mineira de Infectologia (SBI), orientou que, diante de um caso de KPC, a atenção e os cuidados devem ser redobrados. "Se há rigor no controle, o risco de proliferação diminui", completou.
Hospital. A Prefeitura de Betim e a diretora do Hospital Regional de Betim, Adriana Diniz de Deus, negaram todas as denúncias dos funcionários. Segundo os dois, 133 funcionários de uma empresa terceirizada fazem a limpeza da unidade diariamente, seguindo todas as normas de higiene. Sobre a estrutura, o órgão alega que novos equipamentos foram adquiridos recentemente para urgência e emergência.
Familiares temem contágio
A cada dia, 150 pessoas em média, dão entrada no pronto-socorro do Hospital Regional de Betim, um dos maiores da região metropolitana. Outros 70, aproximadamente, vão ao local para consultas e retornos, e cerca de 50 são encaminhados para internação. Em meio a todo esse público, estão ainda os acompanhantes, que, diante dos casos de contaminação pela superbactéria, se preocupam não só com a recuperação dos pacientes, mas também com a própria saúde.
A artesã Isabel Cristina Resende, 47, passou os últimos nove dias visitando o sobrinho de 14 anos no Regional. O garoto quebrou o pé na escola e foi transferido para o hospital de Betim para fazer uma cirurgia. Por nove dias, ficou aguardando um exame para o procedimento. "Cada dia há um motivo para enrolação. Uma hora é o equipamento que está quebrado, outra hora é o médico que não veio".
Ela acredita que a demora aumente as chances de contágio do sobrinho com a bactéria KPC e outras presentes no hospital. "Ficamos com medo, é claro. Meu sobrinho teve febre duas vezes, e a equipe médica disse que era emocional", reclamou a artesã.
A família comemorou a alta que o garoto recebeu ontem, após fazer um exame que constatou que não havia necessidade de cirurgia. Agora, eles torcem para que ninguém tenha sido contaminado. "Meu cunhado passou todos esses dias no hospital, ao lado do filho. É um risco grande que a gente corre", disse.
Isabel comentou ainda que vários familiares de pacientes estão preocupados com a superbactéria e que observou casos de isolamento de pacientes. (LC)
A artesã Isabel Cristina Resende, 47, passou os últimos nove dias visitando o sobrinho de 14 anos no Regional. O garoto quebrou o pé na escola e foi transferido para o hospital de Betim para fazer uma cirurgia. Por nove dias, ficou aguardando um exame para o procedimento. "Cada dia há um motivo para enrolação. Uma hora é o equipamento que está quebrado, outra hora é o médico que não veio".
Ela acredita que a demora aumente as chances de contágio do sobrinho com a bactéria KPC e outras presentes no hospital. "Ficamos com medo, é claro. Meu sobrinho teve febre duas vezes, e a equipe médica disse que era emocional", reclamou a artesã.
A família comemorou a alta que o garoto recebeu ontem, após fazer um exame que constatou que não havia necessidade de cirurgia. Agora, eles torcem para que ninguém tenha sido contaminado. "Meu cunhado passou todos esses dias no hospital, ao lado do filho. É um risco grande que a gente corre", disse.
Isabel comentou ainda que vários familiares de pacientes estão preocupados com a superbactéria e que observou casos de isolamento de pacientes. (LC)
Fonte: O TEMPO