Superbactéria chega à pediatria

25 de Setembro de 2012
por: Luciene Câmara

Promotoria pode propor um TAC ou entrar na Justiça contra a unidade

 

 
FOTO: ANGELO PETTIMATI - 13.2.2012
Saúde. Instituição atende a pacientes de 13 municípios da região metropolitana de Belo Horizonte

O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) investiga a contaminação de pelo menos quatro crianças com a superbactéria KPC no Hospital Regional de Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte. Antes de chegar à pediatria, O TEMPO já havia denunciado a contaminação das alas de clínica médica, centro cirúrgico, pronto-socorro e neurologia. Diante do quadro, a promotora Giovanna Ferreira informou que pode propor a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) ou até mesmo uma ação civil pública. O fechamento do hospital ainda não foi cogitado.

Seis funcionários da unidade já foram ouvidos pela promotoria, e todos confirmaram a colonização (quando ainda não há sintomas) das crianças com uma das bactérias mais resistentes do mundo. "Todos declararam que, com a falta de profissionais, não há técnicos exclusivos para atender a pediatria. Com isso, a bactéria se espalha pelo hospital", contou a promotora de Saúde de Betim, Giovanna Carone Ferreira.

A promotora afirmou que pediu uma perícia técnica na unidade ao Departamento Nacional de Auditoria do Sistema Único de Saúde (Denasus), em agosto, um mês após receber denúncias de funcionários. Já o Denasus informou que repassou o pedido para a Secretaria de Estado de Saúde, que, por sua vez, alegou não ter recebido a demanda. "A situação já é preocupante e a demora pode agravá-la ainda mais. Vou cobrar retorno urgente", completou. Ela cuida de outros dois inquéritos sobre problemas no Regional, entre eles, o surto de KPC e a falta de estrutura e de funcionários no atendimento.

 

Inaceitável. O presidente da Associação Mineira de Epidemiologia e Controle de Infecções (Ameci), Guilherme Armond, disse que casos de KPC são comuns em hospitais de grande porte, mas que o aparecimento da bactéria no setor neonatal é inaceitável. "A comissão de controle de infecções do hospital não pode permitir essa incidência. Um caso já é muito alarmante", disse.

O pediatra e especialista em infecções Ewaldo Aggrippino de Mattos Júnior explicou que, assim como idosos e pacientes debilitados, crianças apresentam maior risco de infecção. "Antes dos 8 e 9 anos, a imunidade é mais baixa e há, consequentemente, maior predisposição a uma infecção hospitalar", declarou.

 

Surto. Há duas semanas, O TEMPO vem denunciando a contaminação no Regional. Além do relato de funcionários e familiares, a reportagem publicou o laudo feito pela própria unidade dos infectados e o resultado de uma investigação da Secretaria de Estado de Saúde, que comprova que o Regional tem 22 dos 49 casos de infecção por KPC registrados no Estado neste ano.

Prefeitura e unidade seguem negando a ocorrência de surto
Mesmo com a declaração da Secretaria de Estado de Saúde (SES), que confirmou o surto da superbactéria KPC no Hospital Regional, a Secretaria Municipal de Saúde continua negando o fato. Em entrevista coletiva ontem - sem convidar O TEMPO, que há duas semanas vem pedindo esclarecimentos -, o titular da pasta, Pedro Pinto, disse que há, atualmente, apenas cinco casos confirmados de KPC, mais dois suspeitos.

Segundo ele, os 22 casos divulgados pela SES foram registrados ao longo deste ano e são habituais no hospital e, por isso, não são tratados como surto. Já a SES mantém o alerta de surto no Regional e dá 30 dias para o hospital tomar as medidas cabíveis.

O presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Marcos Antônio Cyrillo, explicou que um surto acontece sempre que aparecem mais casos do que o normal na unidade, conforme entendimento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). "Se o habitual era um caso e, de repente, surgem três de uma vez só, é um surto". Em nota, a Anvisa reforçou ontem que cabe ao Estado averiguar se há surto. (LC)
 
Minientrevista
 
"Nosso medo de contágio só aumenta"
Como está a sua sobrinha? Ela passou por cirurgia na noite do último sábado, o que só faz aumentar o nosso medo de contaminação. Sabemos que a bactéria atinge, principalmente, os mais debilitados. Ela só tem 2 anos.

Por que ela está internada? Ela teve uma inflamação no joelho e foi internada há uma semana. Depois surgiu também o diagnóstico de infecção urinária (um das reações da bactéria), mas ninguém no hospital informa direito qual é o quadro de saúde dela.

Como a família vem reagindo? Estamos preocupados. O médico não passa todo dia no quarto para dar informações. Ela também está em um quarto com vários pacientes e ninguém usa máscara ou luva. (LC)
Fonte: O TEMPO

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