Superbactéria chega à pediatria
Promotoria pode propor um TAC ou entrar na Justiça contra a unidade
O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) investiga a contaminação de pelo menos quatro crianças com a superbactéria KPC no Hospital Regional de Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte. Antes de chegar à pediatria, O TEMPO já havia denunciado a contaminação das alas de clínica médica, centro cirúrgico, pronto-socorro e neurologia. Diante do quadro, a promotora Giovanna Ferreira informou que pode propor a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) ou até mesmo uma ação civil pública. O fechamento do hospital ainda não foi cogitado.
Seis funcionários da unidade já foram ouvidos pela promotoria, e todos confirmaram a colonização (quando ainda não há sintomas) das crianças com uma das bactérias mais resistentes do mundo. "Todos declararam que, com a falta de profissionais, não há técnicos exclusivos para atender a pediatria. Com isso, a bactéria se espalha pelo hospital", contou a promotora de Saúde de Betim, Giovanna Carone Ferreira.
A promotora afirmou que pediu uma perícia técnica na unidade ao Departamento Nacional de Auditoria do Sistema Único de Saúde (Denasus), em agosto, um mês após receber denúncias de funcionários. Já o Denasus informou que repassou o pedido para a Secretaria de Estado de Saúde, que, por sua vez, alegou não ter recebido a demanda. "A situação já é preocupante e a demora pode agravá-la ainda mais. Vou cobrar retorno urgente", completou. Ela cuida de outros dois inquéritos sobre problemas no Regional, entre eles, o surto de KPC e a falta de estrutura e de funcionários no atendimento.
Inaceitável. O presidente da Associação Mineira de Epidemiologia e Controle de Infecções (Ameci), Guilherme Armond, disse que casos de KPC são comuns em hospitais de grande porte, mas que o aparecimento da bactéria no setor neonatal é inaceitável. "A comissão de controle de infecções do hospital não pode permitir essa incidência. Um caso já é muito alarmante", disse.
O pediatra e especialista em infecções Ewaldo Aggrippino de Mattos Júnior explicou que, assim como idosos e pacientes debilitados, crianças apresentam maior risco de infecção. "Antes dos 8 e 9 anos, a imunidade é mais baixa e há, consequentemente, maior predisposição a uma infecção hospitalar", declarou.
Surto. Há duas semanas, O TEMPO vem denunciando a contaminação no Regional. Além do relato de funcionários e familiares, a reportagem publicou o laudo feito pela própria unidade dos infectados e o resultado de uma investigação da Secretaria de Estado de Saúde, que comprova que o Regional tem 22 dos 49 casos de infecção por KPC registrados no Estado neste ano.
Segundo ele, os 22 casos divulgados pela SES foram registrados ao longo deste ano e são habituais no hospital e, por isso, não são tratados como surto. Já a SES mantém o alerta de surto no Regional e dá 30 dias para o hospital tomar as medidas cabíveis.
O presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Marcos Antônio Cyrillo, explicou que um surto acontece sempre que aparecem mais casos do que o normal na unidade, conforme entendimento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). "Se o habitual era um caso e, de repente, surgem três de uma vez só, é um surto". Em nota, a Anvisa reforçou ontem que cabe ao Estado averiguar se há surto. (LC)
Por que ela está internada? Ela teve uma inflamação no joelho e foi internada há uma semana. Depois surgiu também o diagnóstico de infecção urinária (um das reações da bactéria), mas ninguém no hospital informa direito qual é o quadro de saúde dela.
Como a família vem reagindo? Estamos preocupados. O médico não passa todo dia no quarto para dar informações. Ela também está em um quarto com vários pacientes e ninguém usa máscara ou luva. (LC)