Dificuldade para dormir está relacionada a fatores étnicos
Estudos apontam que negros dormem pior do que brancos e hispânicos
Nova York, EUA. Pessoas de etnia branca não hispânica pesquisadas nos Estados Unidos dormem mais e melhor do que negros e latinos, de acordo com uma série de estudos. Os negros são mais propensos a ter um sono mais curto e menos revigorante.
A ideia de que a raça ou etnia pode ajudar a determinar quão bem uma pessoa dorme é relativamente nova, mas diversos estudos apontam nessa mesma direção. O que os pesquisadores ainda não sabem é os motivos que levam a isso.
"Não estamos em um ponto em que nos é possível dizer se se trata de uma questão natureza versus ambiente, se a relação direta é com a raça ou com fatores socioeconômicos", declara o pesquisador do Centro do Sono e Neurobiologia da Universidade da Pensilvânia, Michael A. Grandner. O fato é que ainda "há um fator na raça que ainda estamos tentando entender".
Qualquer que seja a causa, os médicos afirmam que desvendar o segredo das disparidades raciais do sono poderiam revelar percepções sobre os motivos pelos quais algumas minorias apresentam taxas muito mais altas de hipertensão, obesidade e diabetes. Segundo eles, ajudar os pobres e os imigrantes a dormirem melhor poderia também quebrar o ciclo da pobreza e das desvantagens desses grupos.
"Quando as pessoas não estão dormindo bem à noite, elas não são tão produtivas durante o dia e também não são tão saudáveis. É um círculo vicioso", analisa Mercedes R. Carnethon, professora de medicina preventiva da Escola de Medicina Feinberg, da Universidade Northwestern.
Evidências. A última evidência de que raça e etnia podem afetar o sono veio em junho, no encontro anual das Sociedades Profissionais do Sono, em Boston. Em um dos estudos apresentados, descobriu-se que os participantes brancos da cidade de Chicago dormiam uma média de 7,4 horas por noite. Os hispânicos e asiáticos, cerca de 6,9 horas, e os negros, 6,8 horas. A qualidade do sono - definida pela facilidade para adormecer e a duração de um sono ininterrupto - também foi mais alta entre os brancos do que entre os negros. Essas descobertas são coerentes com estudos anteriores.
Em outro estudo, Carnethon fez ajustes para riscos como doenças cardiovasculares, apneia do sono e obesidade. Ainda assim, os negros e membros de outras minorias - estatisticamente mais passíveis de terem esse tipo de problemas - ainda dormiam menos e pior.
Moleendo Stewart, 41, morador do bairro nova-iorquino do Brooklyn, é negro e afirma que a discriminação tem um papel em seu problema para dormir. "Sendo uma pessoa negra nos Estados Unidos, mesmo se você consegue se superar em termos de educação, você ainda tem que lidar com a desigualdade inerente à sociedade", afirma ele, que trabalha como administrador de um programa que expõe estudantes de minorias raciais a carreiras nas ciências e na matemática. "Eu não culpo a maioria, isso é muito simplista. Mas, de uma forma geral, não é uma coisa justa, e você se estressa por causa disso", completa.
Nova York. Um dos culpados óbvios para a pior qualidade do sono dos negros, de acordo com Mercedes R. Carnethon, professora de medicina preventiva da Escola de Medicina Feinberg, da Universidade Northwestern, são os fatores socioeconômicos.
Por ser Chicago uma cidade consideravelmente segregada, "os negros e os hispânicos do nosso estudo geralmente viviam próximos a ferrovias, onde há muito barulho dos trens e dos comércios à noite e há potencialmente mais crime, o que é estressante", declara. Os indivíduos que vivem em áreas com menor renda per capita também são mais propensos a terem mais de um emprego ou fazerem mais horas extras, o que pode interferir em seu sono.
A ideia de que diferenças no trabalho e nas condições de vida podem explicar as disparidades raciais no sono é a mais popular entre os cientistas. Mas outros estudos revelam uma realidade mais complexa.
Uma pesquisa de 2005 mensurou o sono entre 669 participantes e fez ajustes para a educação, renda e emprego. Os homens negros ainda dormiam 82 minutos menos do que as mulheres brancas, que dormiam melhor do que qualquer outro grupo no estudo.
Segundo a professora de medicina na Universidade de Chicago e autora do estudo, Susan Redline, "existem diferenças mais sutis" entre as pessoas do que renda e educação. "Não tínhamos como controlar o estresse e há estresses sociais que um homem negro pode sentir e que um branco com a mesma renda e escolaridade não", completa. (DQ/NYT)
Traduzido por Raquel Sodré
Fonte: New York Times