Juro ainda é alto, mas cai para o menor nível desde o real
Queda no cheque especial ajudou a puxar taxa da pessoa física para 35,6%
BRASÍLIA. As taxas de juros cobradas de consumidores e empresas voltaram a recuar em agosto. Segundo o Banco Central (BC), a taxa de juros média do mercado caiu 0,6 ponto percentual no mês passado, para 30,1% ao ano, menor patamar desde 2000. Para a pessoa física, a taxa média de juros recuou de 36,2% ao ano em julho para 35,6% no mês passado. É a menor taxa desde 1994, quando foi implantado o Plano Real e teve início a série do BC sobre o juro cobrado ao consumidor.
A queda que foi puxada principalmente pela diminuição da taxa cobrada no cheque especial, para 148,6% ao ano. Já os juros cobrados das empresas caíram para 23,05% ao ano.
Em um esforço para reduzir o custo dos financiamentos e estimular a economia, o governo tem reduzido a taxa básica de juros (Selic) e pressionado os bancos a diminuírem seus spreads (diferença entre o custo de captação do banco, ou seja, quanto ele paga pelo dinheiro e quanto ele cobra dos clientes).
A Selic, que baliza o custo de captação dos bancos, caiu de 12,5% ao ano em agosto de 2011 para 7,5% ao ano no mês passado. Os spreads também voltaram a cair. O valor médio cobrado pelos bancos no país recuou meio ponto percentual em agosto para 22,5 pontos percentuais. Esse patamar é 5,3 pontos percentuais inferior ao observado um ano atrás.
Greve afetará dados. A greve dos bancos, que terminou parcialmente na noite de ontem, poderá contribuir para o aumento da taxa média de juros bancários apurada pelo Banco Central no mês de setembro, segundo comentou o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel. O dado será divulgado no final do próximo mês. A paralisação pode influenciar ainda os dados de inadimplência.
Maciel lembrou que, no ano passado, os dados de outubro refletiram o efeito da greve naquele mês. Na época, a instituição explicou que a greve restringiu parcialmente o acesso aos serviços bancários, afetando, principalmente, o crédito a pessoas físicas.
Desde 2009, o agente de bordo Igor de Oliveira está com o nome inscrito no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). A dívida de R$ 1.500, decorrente de um cheque que ele emprestou para um amigo, já o impediu de abrir conta corrente em banco e de pedir um cartão de crédito. "Tudo que eu compro tem que ser à vista".
Ele não está sozinho. Uma pesquisa nacional encomendada pelo SPC aponta que 41% dos consumidores já foram ou estão impossibilitados de fazerem compras a prazo por estarem com o nome sujo.
Os motivos principais indicados pelos inadimplentes são a falta de planejamento financeiro e a dificuldade de avaliar o quanto efetivamente pagam quando fazem compras parceladas. Oliveira, que já teve o nome no SPC em outra ocasião, por deixar de pagar uma compra feita por ele mesmo, diz que a maior dificuldade é quitar os juros. "Fica muito caro", afirma.
Apesar desse cenário incluir pessoas das classes A e B, o estudo mostra que são os brasileiros das classes C e D os que mais sofrem com a situação da inadimplência: 44% das famílias com renda até R$ 3.825 mensais já estiveram ou estão com os nomes sujos. Em famílias com renda superior a este limite, o percentual cai para 32%.
Em famílias com renda até R$ 3.825 por mês, 40% manifestam despreocupação em se informar sobre as taxas de juros, enquanto que nas classes de renda superior a despreocupação cai para 19%. Segundo a pesquisa, quanto menor a renda, menor o interesse em se obter essas informações.
"Pessoas com menos escolaridade são as que mais ignoram o assunto e, como consequência, são as que mais juros pagam nas suas compras financiadas, fato que as leva à inadimplência", explica o economista do SPC Brasil, Nelson Barrizzelli.
A pesquisa aponta também que 64% das famílias com renda até R$ 3.835 possuem entre um e quatro cartões de crédito. Nas famílias com renda acima desse limite, o percentual é de 77%. (Ana Paula Pedrosa com agências)
Fonte: O TEMPO