Violência contra idosos cresce 204% em apenas um ano

27 de Setembro de 2012
por: Lucas Simões

Média de ligações é de 3,7 por dia; para autoridades, ainda há subnotificação

 

 

Depois de dois meses sofrendo com tortura psicológica e física da própria filha, a aposentada Márcia Gomes*, 66, de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, decidiu dar um basta nos maus-tratos. Ela faz parte do grupo de 669 moradores de Minas com mais de 60 anos que denunciaram atos de violência por meio do Disque-Denúncia nos seis primeiros meses deste ano. O número é 204% maior que o registrado no mesmo período de 2011, quando foram 202, e representa uma média de 3,7 denúncias por dia.

O levantamento é da Secretaria Nacional de Direitos Humanos (SDH) e traz Minas no quarto lugar do ranking nacional de denúncias - atrás apenas do Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia (ver quadro abaixo). Os dados acendem um alerta sobre o problema às vésperas do Dia Internacional do Idoso, na próxima segunda-feira.

 

Subnotificado. Mesmo com o aumento significativo, a presidente do Conselho Municipal do Idoso, Sandra Conceição Mallet, acredita que ainda há subnotificação. "Com a divulgação maior do Disque-Denúncia, nós já esperávamos haver um aumento no número de denúncias. Mas o percentual é muito alto e muitas denúncias ainda não são feitas porque os idosos têm medo ou por causa de pressão da própria família, que, em 90% dos casos, é responsável pelos maus-tratos", explicou.

É o caso da aposentada Márcia Gomes*. Ela conta que demorou a denunciar a filha, de 30 anos, que a agredia com vassouradas na cabeça, por não querer que ela fosse presa. "Mas eu precisei denunciá-la. Era a única maneira de ela parar, se ficasse com medo de ser punida. Eu tentei evitar, mas ela me batia com vassoura, eu ficava tonta e cheia de hematomas", contou a aposentada.

Foi esse também o caso do sapateiro Márcio de Souza*, 67, que preferiu não denunciar o neto, de 14 anos. "Eu não tenho condições de agir contra o meu neto. Além disso, tenho medo de que aconteça alguma coisa com ele. Fui maltratado outras vezes, mas hoje a situação está melhor", disse.

Para o delegado da Delegacia Especializada de Proteção ao Idoso e ao Deficiente Físico, Geraldo Toledo, a legislação permite que a situação se mantenha. "A pena mais alta é facilmente substituída por serviços comunitários, como pagamento de cestas básicas, todos cumpridos em regime de liberdade". Segundo o Estatuto do Idoso, a pena para maus-tratos é de dois meses a um ano e meio de prisão. Em casos de lesão corporal, de um a quatro anos, e se houver morte, de quatro a 12 anos.

 

* Nomes fictícios

 
UFMG
Convivência com pessoas da mesma idade faz bem
Pesquisa feita pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostra que os idosos que vivem com pessoas da mesma idade têm uma melhor qualidade de vida. Intitulada "Arranjos domiciliares e a utilização de serviços de saúde dos idosos brasileiros", a pesquisa, divulgada no último mês, apontou que 11% dos idosos do país que moram com pessoas entre 14 e 59 anos recorrem mais ao serviço de internação hospitalar. Em contrapartida, 18% dos idosos que moram com companheiros da mesma faixa etária, realizam exames rotineiros com frequência e não precisam de tratamento.

"Quando eles vivem apenas com o marido ou a mulher, é como se um incentivasse o outro", explicou Roberta Stancioli Marinho Costa, responsável pela pesquisa embasada em dados da Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílios (PNAD), de 2008, que consultou 39.346 idosos.

É o caso do aposentado Paulo Afonso, 65, e da dona de casa Nadir Patta, 62. Com os filhos criados, eles moram sozinhos e cuidam da saúde um do outro. "Fico de olho nos exames dela, que vai até na nutricionista. Fazemos ginástica e não deixamos uma consulta de rotina falhar. Agora, estamos na praia, descansando", disse o aposentado.

O problema da convivência com os mais jovens, segundo o presidente da Associação Mineira dos Cuidadores de Idosos, Jorge Roberto Afonso de Souza Silva, é que falta paciência. "O que a gente vê são famílias que recorrem à cuidadores por não terem disposição de cuidar".

A cuidadora de idosos Maria das Graças Pinheiro, 48, que, há um ano e meio acompanha a aposentada Eleni Cornélio Moreira, 75, reforça a opinião. "Minha presença é mais que dar um remédio ou um banho, é um gesto de carinho", disse. (LS)
 

 

Fonte: O TEMPO

Avenida Amazonas, 491, sala 912, CEP: 30180-001, Belo Horizonte/MG - Telefone: (31) 3110-9224 | (31) 98334-8756