Número de pessoas procuradas por familiares cresce ano a ano em Minas

19 de Junho de 2012
por: Tiago de Holanda

Todos os dias, Pedro, de 72 anos, e Alice Carvalho, de 59, revivem a mesma quarta-feira. O calendário teima em não ir além de 11 de janeiro de 2012. Naquela data, Pedro dirigia o carro em que ele e o filho caçula do casal, Vinícius, de 28, voltavam para Belo Horizonte. Haviam passado o réveillon em Guarapari, Espírito Santo. A certa altura da estrada, o taciturno Vinícius puxou o volante e fez o carro esbarrar na amurada de uma ponte. Quando o pai parou o carro, o jovem saiu, pulou no rio lá embaixo, nadou até uma das margens e meteu-se no meio do mato. Sumiu. Desde então, Pedro e Alice dedicam suas horas a procurar Vinícius, atentos a qualquer rastro.

A quantidade de famílias cujo calendário se interrompeu, como o deles, não para de crescer em Minas Gerais. Nos últimos seis anos, aumentou em mais de quatro vezes o número de desaparecimentos registrados pela Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida (DRPD) da Polícia Civil. Em 2006, quando o cadastro local se iniciou, havia 727 desaparecidos, apenas 23% dos 3.186 registros de 2011 e menos do que os 1.090 contabilizados apenas de janeiro a março deste ano. A título de comparação, a população mineira aumentou apenas 9% entre 2000 e 2010, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Desde 2006, 12.585 pessoas sumiram. Se incluídos os casos notificados em anos anteriores, a conta sobe para 13.494. Em 2012, a média é de nove ocorrências por dia até abril. Do total de 13.494 desaparecidos até abril deste ano, 58% (7.827) têm de 18 a 59 anos e 29,7% (4.006), de 12 a 17 anos. No entanto, o número de pessoas localizadas foi multiplicado em mais de sete vezes, de 403 em 2006 para 2.883 em 2011. Na maioria dos casos, a localização é feita por familiares, agentes de segurança pública ou terceiros, que se baseiam em fotos e outras informações divulgadas pela polícia. No segundo bimestre de 2012, período mais recente analisado pela DRPD, 41% das crianças e 34% dos adolescentes foram encontrados de alguma dessas três formas.

Atualmente, há nada menos que 2.774 desaparecimentos sob investigação. Na avaliação da delegada responsável pelo DRPD, Cristina Coelli, embora ainda haja subnotificação nesse tipo de ocorrência, o número de casos que chegam ao conhecimento da polícia é maior. A “cultura perversa” de que se deveria esperar 24 ou 48 horas antes de acionar as autoridades vem sendo derrubada, segundo Coelli. “Antes, as pessoas procuravam a delegacia e tinham como resposta a necessidade de aguardar até dois dias. Esse prazo não existe legalmente”, alerta a delegada. As primeiras 48 horas podem ser cruciais para a localização de alguém. “São as horas mais importantes, por causa dos vestígios, que são mais recentes. As pessoas passaram a procurar mais a delegacia nesse intervalo de tempo, em que se dá a maior parte das soluções”, diz.

Outro motivo para o crescimento de ocorrências foi o “aumento assustador”, nas palavras de Coelli, do número de adolescentes do sexo feminino desaparecidas. “De dois anos para cá, a gente percebe que a adolescente vem buscando mais liberdade, tem um espírito de aventura que antes não era constatado”, aponta. Em abril de 2011, as meninas respondiam por 52% dos sumiços de crianças e adolescentes, contra 65% entre março e abril de 2012.

O desaparecimento deve ser denunciado assim que for percebido, reforça Coelli. “Pode-se ir à unidade mais próxima, seja da Polícia Civil ou da Militar. De preferência, levando uma fotografia recente. Nas buscas, a foto vai ser apresentada a populares, e é fundamental, sobretudo no casos dos perfis vulneráveis, que incluem crianças, idosos e portadores de transtorno mental”, esclarece a delegada. Também há uma série de seis telefones pelos quais as autoridades podem ser avisadas: 0800-2828197, 181, 197 (Polícia Civil),190 (PM), 193 (Corpo de Bombeiros) e (31) 3429-6009 (Delegacia Especializada em Localização de Pessoas Desaparecidas da Polícia Civil).

 

Fonte: Estado de Minas

Avenida Amazonas, 491, sala 912, CEP: 30180-001, Belo Horizonte/MG - Telefone: (31) 3110-9224 | (31) 98334-8756