`Queremos um Brasil de classe média´, diz Dilma Rousseff
Custo do trabalho, baixa produtividade e infraestrutura ruim são as críticas
São Paulo. A presidente Dilma Rousseff disse em entrevista exclusiva ao "Financial Times", publicada na edição de ontem do jornal britânico, que um dos ganhos importantes que o Brasil teve em quase dez anos de governo do Partido dos Trabalhadores (PT) foi conquistar uma população de classe média. "Nós queremos um Brasil classe média".
O artigo do jornal afirma que um progresso notável foi feito para melhorar a sorte de milhões de pessoas em um país que continua tendo uma das sociedades mais desiguais do mundo. A publicação destaca, porém, que após quase uma década de condições globais amplamente favoráveis a economia brasileira parou de repente. Perguntada sobre quais eram seus principais desafios, Dilma respondeu que o relaxamento da política monetária dos Estados Unidos, quando não acompanhado de políticas fiscais para absorver o empoçamento de liquidez, leva à desvalorização cambial e à inflação.
"As políticas monetárias expansionistas que resultam em uma desvalorização da moeda são as políticas que criam assimetrias nas relações comerciais. Assimetrias graves", disse a presidente Dilma. Mas a presidente reconhece que muitos dos problemas do Brasil são também locais. Os elevados custos do trabalho, a baixa produtividade, infraestrutura precária e alta tributação, com gastos do governo em 36% do Produto Interno Bruto (PIB), valor equivalente ao de muitos países europeus avançados, mas sem os mesmos níveis de eficiência, criaram uma situação em que a inflação surge sempre que a economia começa a crescer.
O jornal afirmou que, embora não prometa um grande pacote de reformas, como visto recentemente na Índia, que desregulamentou os setores de varejo e de companhias aéreas, a presidente Dilma disse que o Brasil está reduzindo o custo do trabalho por meio da desoneração da folha de pagamentos das empresas. Até agora, 40 setores industriais foram beneficiados e outras medidas fiscais estão por vir, disse a presidente na entrevista. "Isso é importante porque não queremos penalizar aqueles que empregam as pessoas", completou. Em resposta a uma pergunta sobre se os temores de que a intervenção verbal do governo possa interferir no setor bancário, a presidente afirmou que o país é o último no mundo onde as instituições financeiras ainda podem cobrar taxas tão altas.
Fonte: O TEMPO