Consumidor paga até 2% de juros ao mês sem saber

08 de Outubro de 2012
por: Ana Paula Pedrosa

CDL diz que é difícil afirmar se lojistas ocultam ou não os acréscimos

 

As tentadoras ofertas de pagar uma compra em duas, quatro e até dez vezes sem juros podem esconder uma armadilha para o consumidor. De acordo com economistas, não é possível manter o mesmo preço praticado à vista para uma compra que será paga em quase um ano. Isso significa que todos os consumidores, inclusive os que optam em pagar à vista, estão pagando juros embutidos no preço.

"Isso não existe. É lógico que tem juros embutidos", diz o conselheiro do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Wilson Benício Siqueira. Ele calcula, com base em outros indicadores de mercado, que as taxas embutidas variam de 1,5% a 2% ao mês. Muitas vezes, quem paga à vista, também arca com as taxas embutidas, porque não tem desconto.

"Todo parcelamento tem juros, mesmo que isso não fique claro", concorda o professor de finanças da faculdade IBS/FGV, Milcíades Morais. Ele diz que as taxas que o consumidor paga sem saber variam de 0,6% a 2%.

O percentual varia, segundo ele, de acordo com o risco que o lojista vê no negócio. "Os maiores, que têm mais condições de arcar com o risco, cobram 0,6%, que é o que eles deixam de ganhar se aplicassem no mercado financeiro", explica o professor.

A economista da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH), Ana Paula Bastos, diz que não é possível afirmar que os lojistas ocultam os juros nos parcelamentos anunciados como sem acréscimo. "Só dá para saber a partir dos custos de cada lojista", afirma. O advogado da entidade, Reginaldo Moreira, segue a mesma linha. "Estão embutidos os custos dos lojistas e as margens de lucro, perdas e riscos. Isso não são juros", afirma.

Ele afirma ainda que, de acordo com o Código de Defesa do Consumidor (CDC), os lojistas são obrigados a informar ao consumidor os juros cobrados nas compras feitas a prazo. Da mesma forma, eles têm que deixar claro os juros e multas que serão cobrados em caso de atraso nas prestações.
Longe da discussão entre especialistas, a funcionária pública federal Laudi Almeida Pereira Braga é adepta ao parcelamento. Na fatura do cartão de crédito dela atualmente há prestações de um notebook e de um freezer comprados em dez vezes e roupas e sapatos pagos em três parcelas. "Meu Deus, algumas parcelas que não acabam nunca! Mas quem vive de salário não consegue ter as coisas se não for assim", afirma.

Antes de fazer as compras ela faz uma boa pesquisa de mercado para verificar se o preço que será parcelado está em linha com os valores que estão sendo cobrados de quem paga à vista. Ela também calcula se as prestações não vão estourar o orçamento e sempre paga a fatura total do cartão, para evitar a bola de neve que o pagamento mínimo pode se tornar. "Eu sei que se não pagar a fatura toda, vai ficar muito caro depois", diz.
Bancos querem acabar com parcelas sem juros
O financiamento sem juros no cartão de crédito pode estar com os dias contados. Existe entre os bancos uma discussão para acabar com essa modalidade ou cobrar uma taxa do lojista que optar por parcelar sem juros. Essa taxa, provavelmente, seria repassada ao consumidor.

A medida vai impactar diretamente o mercado de cartões, já que 70% das compras parceladas com os cartões são feitas na modalidade sem juros. No ano passado, o parcelamento sem juros nos cartões atingiu R$ 200 bilhões.

Os bancos entendem que o carregamento desse crédito sem juro tem um custo elevado para as instituições, já que envolve o risco de inadimplência dos consumidores.

Em setembro, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse que esse parcelamento é uma benefício ao consumidor. Tombini afirmou ainda que o financiamento sem juros é uma peculiaridade do setor de cartões de crédito no Brasil. Segundo ele, o prazo médio de parcelamento é de 3,6 meses.
(APP com agências)
Cliente nem sempre tem desconto
A melhor opção de compra, segundo os especialistas, é pagar à vista e negociar um desconto, que deveria ser entre 5% e 15% para compensar os juros embutidos nas mercadorias vendidas em dez ou 12 prestações com preço fixo. Mas eles admitem que nem sempre é possível conseguir um preço menor pagando tudo de uma vez. "Se o preço for fixo, é melhor parcelar com um prazo maior, desde que a prestação seja incluída no orçamento doméstico", diz o professor da faculdade IBS/FGV, Milcíades Morais. Ele lembra que em compras pela internet, o pagamento por meio de boleto bancário tem, em geral, 5% de desconto sobre o preço anunciado.

A economista da CDL-BH, Ana Paula Bastos, diz que uma alternativa para reduzir as prestações é dar uma entrada maior. "É preciso também ter sempre uma reserva para imprevistos. É quanto a pessoa puder guardar. Se for R$ 20 por mês, já é melhor do que não guardar nada", aconselha. (APP)
Fonte: O TEMPO

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