Guerra aos bancos chega agora às tarifas
Depois de forçar a baixa dos juros, governo volta a se valer de uma instituição pública para diminuir custo financeiro. Banco do Brasil vai cortar valor de serviço em até 37,5%
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Mesmo com anúncio de redução, a autônoma Cissa Nunes desconfia do corte e acredita que pode haver aumento em outra área |
À semelhança do que ocorreu com o corte de juros iniciado em abril deste ano, a expectativa dos especialistas é de que as instituições privadas reajam com anúncios semelhantes nos próximos dias. O esforço não é por acaso. Nos nove primeiros meses do ano, as tarifas cobradas pelos bancos públicos e privados para produtos e serviços tiveram aumento de até 191% nas operações para pessoa física. O fornecimento de extrato mensal, por exemplo, subiu 49,5%, passando de uma média de R$ 2,48 para R$ 3,71, segundo dados informados pelas instituições financeiras ao Banco Central.
O corte das taxas de juros justifica boa parte deste movimento. “O fato é que os bancos tiveram queda nas receitas com redução do spread, o que os fez buscar uma compensação, seja por meio de aumento das vendas de títulos de capitalização ou concessão de empréstimos, seja a partir do aumento das tarifas e custos de manutenção das contas”, pondera Miguel Ribeiro de Oliveira, conselheiro e coordenador da área de pesquisas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
O professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/IBS) Mauro Rochlin considera praticamente certa a movimentação dos concorrentes. “Hoje, a Caixa Econômica e o Banco do Brasil têm a maior participação no crédito concedido. Ou seja, se eles se mexem, os privados também têm que se mexer para não perder participação”, explica. O Santander informou em nota que está “analisando todos os movimentos de mercado de forma a garantir para seus clientes o melhor conjunto de oferta e preços.” As demais instituições também avaliam o cenário.
Cheque, saques, depósitos, consultas e transferências são alguns dos serviços do Banco do Brasil que ficam mais baratos a partir de segunda-feira. Somado a isso, o banco vai isentar os novos clientes da tarifa de confecção de cadastro, que hoje é de R$ 30, valor semelhante ao cobrado pelos concorrentes.
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O engenheiro, Inácio Ribeiro Vale reclama que pacote de serviços registrou aumento, mas aposta que pressão reduzirá peso para clientes |
Com os novos valores, o Banco do Brasil passa a deter as melhores tarifas em praticamente todos os serviços (veja quadro), à exceção daqueles que não são cobrados nos demais, como o depósito identificado, gratuito na Caixa e HSBC. A diferença dos valores cobrados pelo serviço que exceder o pacote mensal pode chegar a 75% no caso do saque no caixa eletrônico que passa a R$ 1,20 no BB e a R$ 2,10 no Santander.
Cliente deve ficar atento
Apesar de estar na mira do governo, as tarifas estão longe de ser a principal preocupação dos consumidores na hora de escolher o banco. O coordenador do Procon Assembleia, Marcelo Barbosa, observa que hoje o correntista está muito mais atento aos juros cobrados do que às tarifas, ficando sem informação sobre o que de fato paga por algum serviço contratado. “Não adianta ficar monitorando queda de juros porque reduziram de um lado, mas aumentaram de outro. Os bancos tiram de um lado e ganham de outro”, frisa. Ele alerta ainda que ao contratar um serviço, seja empréstimo, abertura de conta ou utilização de cheque especial , o cliente deve conhecer as tarifas bancárias.
Correntista do Santander e do Itaú, o engenheiro Inácio Vale Ribeiro diz que no último ano, principalmente, percebeu no extrato o aumento das tarifas. “Não sei mensurar o quanto as tarifas aumentaram, mas sei que no acumulado pagamos muito para fazer saques, transferências e qualquer outra movimentação”, reclama. Ribeiro, no entanto, tem como expectativa que as mudanças anunciadas pelo BB pressionem os bancos privados a também reduzir as tarifas. “Foi assim com os juros e imagino que também será com as tarifas porque os bancos não querem perder clientes”, diz.
A autônoma Cissa Nunes Soares, cliente do Banco do Brasil mantêm a desconfiança e acredita que os bancos darão um jeito de ganhar de outra forma. “É preciso buscar mais conhecimento para saber os impactos disso na administração do banco porque não adianta pagar tarifas mais baratas, mas pagar isso em outro serviço”, observa. (PT e CM)
Calote sobe na capital, mas recua no país
Pela primeira vez em 2012, o percentual do aumento de consumidores com o nome negativado no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) da Câmara de Dirigente Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) atingiu dois dígitos. No confronto entre setembro e agosto, o indicador avançou 13,87%. Em relação a setembro de 2011, o crescimento foi de 8,48%. Por sua vez, no país, a inadimplência recuou 12,02% entre setembro e igual mês de 2011, segundo o SPC Brasil.
A CDL-BH e o SPC Brasil usam metodologias diferentes. A principal é que o resultado da entidade nacional reflete o saldo entre nomes negativados e excluídos do cadastro dos maus pagadores. Outra diferença é que o SPC Brasil não divulgou a comparação entre setembro e agosto de 2012, ao contrário da CDL.
A alta da inadimplência em setembro na capital mineira, apurada pela CDL, interrompeu duas quedas consecutivas e foi atribuída pela economista Ana Paula Bastos, da CDL-BH, a um conjunto de fatores. Um deles é o descontrole dos gastos de muitos consumidores. As políticas do governo em estimular as vendas de alguns setores, como a redução do Imposto de Produtos Industrializados (IPI), “ajuda” a agravar esse problema.
Outro motivo é o crescimento das vendas a prazo em agosto, devido ao Dia dos Pais, uma das melhores datas para o varejo brasileiro. “Nesse sentido, o uso inadequado do crédito e o consumo de forma inconsciente contribuíram para um crescimento dos índices de inadimplência”, reforçou Ana Paula.
Cabe ressaltar, acrescenta a especialista, “que muitos empresários aproveitaram a injeção de capital extra na economia, por meio da primeira parcela do décimo terceiro salário dos aposentados, para registrar os débitos dos consumidores”. A estratégia, nesse caso, é forçar o inadimplente a quitar a dívida em atraso. No acumulado dos nove primeiros meses de 2012, o indicador expandiu 1,53% em BH.
Esse índice só não foi maior em razão de, em setembro, também ter crescido o percentual de consumidores que regularizaram suas dívidas.
Tal expansão foi de 11,36% na comparação com agosto passado. Uma das explicações é a chegada do Dia das Crianças. A data tem forte apelo consumista, estimulando devedores a regularizarem suas pendências financeiras em busca de novos créditos. “Também a aproximação do Natal incentiva as pessoas a regularizarem suas dívidas”, acrescentou a economista da CDL-BH.
Há, porém, outros motivos, como a redução da taxa de desemprego e o aumento da renda média do brasileiro. Para se ter ideia, o desemprego entre a população economicamente ativa na Grande Belo Horizonte fechou agosto em 4,3%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Há 10 anos, a taxa era de 11,3%.
Fonte: Estado de Minas