Ar de BH e região entre os mais "sujos" do país

19 de Junho de 2012
por: Carla Chein e Igor Guimarães
O ar na região metropolitana de Belo Horizonte é um dos mais poluídos do Brasil, segundo a pesquisa Indicadores de Desenvolvimento Sustentável 2012, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ontem, dois dias antes do início da cúpula da Rio+20. De acordo com o levantamento, feito com base em dados de 2010 da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), a região da capital mineira teve a pior concentração de monóxido de carbono entre sete regiões metropolitanas analisadas - a máxima registrada em 2010 foi de 13.863 microgramas por metro cúbico, o que colocou a cidade à frente do Rio de Janeiro e de São Paulo. O valor máximo aceitável, de acordo com o padrão do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), é de 10 mil microgramas por metro cúbico. A concentração de PM10 (partículas inaláveis associadas às doenças respiratórias) na região metropolitana não é das piores (158 microgramas por metro cúbico), mas também está acima do limite recomendado pelo Conama (150 microgramas por metro cúbico).

"Essas comparações entre cidades têm que ser feitas com muito cuidado", alerta o biólogo Judicael Clevelário Júnior, técnico do IBGE. Segundo ele, os municípios adotam metodologias diferentes. Além disso, ressalta, esses dados podem variar conforme o número de estações de medição que cada região metropolitana tem e o local onde elas ficam. "Temos que considerar ainda alguns condicionantes extras que afetam a qualidade do ar de Belo Horizonte, como a inversão térmica (que aumenta a concentração de partículas no ar) e as estações demarcadas", explica. O inverno da capital mineira, diz, é muito seco, o que dificulta a dispersão de poluentes.

A nuvem de poeira que costuma pairar sobre a cidade na estação fria provém, principalmente, da queima do combustível fóssil, especialmente o diesel, esclarece o professor do Departamento de Medicina Preventiva Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Antônio Leite Alves Radicchi. Para a saúde, afirma, o material particulado e o dióxido de carbono são um veneno, que leva a processos alérgicos, obstrutivos e inflamatórios, resultando em asmas, pneumonias e rinites alérgicas, sobretudo em crianças. Aos idosos, a poluição sobrecarrega o sistema respiratório e, consequentemente, leva a doenças cardiovasculares.

A "sujeira" suspensa na atmosfera pode provocar alterações na gestação. "Estudos mostram que a poluição do ar atinge o feto, levando a nascimentos com baixo peso e à elevação do número de abortos.

Para Clevelário Júnior, apesar dos índices ainda altos de poluição, tem havido melhora na qualidade do ar em todas as regiões metropolitanas brasileiras com monitoramento. "Teve melhora dos motores de carros, que cada vez emitem menos poluentes, dos combustíveis e da fiscalização das indústrias", justifica. O problema, reconhece, é que, por maior que seja essa evolução, ela não supera a expansão das frotas de veículos nas cidades brasileiras.

Radicchi critica as políticas públicas de mobilidade no trânsito. "Em Belo Horizonte, só se fala que o número de veículos não para de aumentar. As grandes artérias da cidade têm grandes engarrafamentos, e quem fica retido neles respira essa fumaça", afirma o professor da UFMG. Ele aponta a inspeção veicular ambiental (IVA) como uma das formas de controle das emissões do diesel dos caminhões e ônibus. Porém, o governo do Estado, embora tenha cumprido todas as etapas estabelecidas pelo Conama para iniciar o serviço - que não será cobrado -, diz não haver prazo para a implantação.

A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) informou que o presidente da Feam, Ilmar Bastos, não poderia comentar os dados do IBGE porque estava em um evento externo. O técnico que também poderia falar sobre o assunto estaria incomunicável, participando da Rio+20.

 

Poeira tóxica
Presença de partículas mais finas é um mistério na capital e entorno

A qualidade do ar na região metropolitana de Belo Horizonte pode ser ainda pior do que se tem conhecimento. As nove estações de medição da quantidade de particulados revelam apenas o volume PM10 (10 mil microcramas), enquanto que equipamentos mais modernos usados em outros países, como nos Estados Unidos, monitoram partículas quatro vezes mais finas (2.500 microgramas).

Essas partículas mais finas são ainda mais prejudiciais à saúde. "Esse material atinge de forma mais grave o organismo, penetrando nos alvéolos (do pulmão)", alerta o professor do Departamento de Medicina Preventiva Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Antônio Leite Alves Radicchi. Em 2008, explica, um equipamento capaz de monitorar o PM2,5 foi instalado no terceiro andar de um escritório na avenida Alfredo Balena, no centro, a pedido do Ministério do Meio Ambiente. "O resultado é que a poluição estava acima da aceitável", disse Radicchi.

Os padrões de qualidade do ar no Brasil foram fixados pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) há 22 anos. "Estamos defasados em relação a outros países. É preciso monitorar a poluição mais fina", afirmou Radicchi. (IG)

 

Fonte: O TEMPO

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