Classe C impulsiona aumento de aberturas de contas-correntes no país

10 de Outubro de 2012
por: Paulo Henrique Lobato

Mais de 30% das contas-correntes do país foram abertas há menos de cinco anos. Dado ilustra o aumento do poder aquisitivo das pessoas com renda familiar acima de R$ 1.024

 

 

 

 
André Souza com o filho, Miguel: conta bancária foi uma conquista (BETO MAGALHÃES/EM/D.A PRESS
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André Souza com o filho, Miguel: conta bancária foi uma conquista
O garçom André Souza, de 23 anos, foi contratado por uma empresa de Belo Horizonte em 2011, quando migrou para a classe C, a chamada nova classe média – com renda familiar de R$ 1.024 a R$ 2.564,99. Nesses 18 meses, ele mudou alguns hábitos de consumo, entre eles o de dar maior valor ao suado dinheiro, mas seu principal benefício foi ter acesso a conta bancária. O jovem ilustra uma pesquisa da Boa Vista Serviços, empresa de São Paulo que atua numa rede de 2,2 mil entidades representativas do varejo nacional. O estudo apurou que 31% das contas-correntes do Brasil foram abertas pelos representantes da classe C há no máximo cinco anos.

Esse percentual de novos correntistas é maior do que o das outras três faixas de prazos agrupados pela própria Boa Vista por idade das contas. Enquanto os novos correntistas da classe C representam 31%, os que abriram contas entre seis e 10 anos somam 24%. De 11 a 20 anos, 23%. O mesmo percentual para aqueles que se relacionam com as instituições financeiras há pelo menos duas décadas. O salto de 31% se deve, principalmente, ao aumento do poder aquisitivo das classes mais baixas, cujos rendimentos foram impulsionados pelo desemprego em baixa.

Proporcionalmente, o maior aumento foi notado nas classes D e E: 46% das contas correntes abertas pelos integrantes dessa faixa de renda ocorreu nos últimos cinco anos. No mesmo período, esse percentual foi de 36% entre a classe C; de 28%, na B, e de apenas 9%, na A. Para entender melhor a qual classe social o brasileiro pertence, a Boa Vista Serviços concluiu que os integrantes da A têm renda familiar de pelo menos R$ 8.418; os da B contam com rendimentos entre R$ 2.565 e R$ 8.417,99; os da C ficam de R$ 1.024 a R$ 2.564,99; os da D variam de R$ 714 a R$ 2.564,99; e os da E de até R$ 713,99.

André, o garçom contratado há um ano e meio, passou a integrar a nova classe média em razão de o seu salário mensal (R$ 1 mil) e o de sua esposa (R$ 1,2 mil), a vendedora Ingrid Lisboa, de 21, somarem R$ 2,2 mil. Ontem, na companhia dela e do filho, Miguel, de 9 meses, ele foi pesquisar preços de brinquedos para presentear o pequeno no Dia das Crianças. A opção dos jovens é levar algo quitado à vista ou em parcelas sem juros, pois, seguindo a cartilha do bom consumidor, evitam os acréscimos financeiros cobrados pelas operadoras. “No crédito, só em último caso”, reforça André.

FIDELIDADE O levantamento traz um dado curioso: enquanto a classe C tem, em média, 3,2 cartões de lojas (C&A, Carrefour etc); os integrantes da A têm 2,7. Por outro lado, enquanto os da A têm, em média, 3,3 cartões de crédito de banco (Bradesco, Itaú, Caixa etc), os da C possuem dois cada um. Essa diferença sugere, entre algumas análises, que os consumidores da nova classe média são mais dependentes do crédito do que os ricos. Há outras conclusões: empresas que apostam no filão do crediário próprio têm a classe média como elevadora dos lucros.

“No início, o crediário de lojas foi o responsável por levar o crédito às classes de menor renda. Há 20 anos, por exemplo, era muito raro ter cheque especial ou cartão de crédito de banco. Nos últimos anos, porém, o crédito se expandiu e chegou às classes de menor poder aquisitivo. Ou seja: é um legado, uma herança”, destacou Fernando Cosenza, diretor de Inovação e Sustentabilidade da Boa Vista Serviços. Ele acredita, contudo, que a tendência é de que as famílias com menor poder aquisitivo optem pelos cartões de bancos em razão “desse movimento de ‘bancarização’ (abertura de contas) das classes de menor renda”.

Foi o que ocorreu com a professora Sandra Ribeiro, de 33, moradora de Sabará. Ela foi contratada, há poucos meses, com salário de R$ 800. O marido dela, autônomo, recebe R$ 1 mil. Pelos cálculos da Boa Vista, o casal integra a classe D. Recentemente, ela cancelou os três cartões de loja que tinha e optou por ficar com apenas o de crédito bancário. “Não fico presa a determinadas lojas”, disse ela, fazendo questão de enfatizar que o ideal, “se possível, é pagar à vista”.

 
Ricos planejam mais

O planejamento do orçamento familiar entre as classes sociais mais baixas, porém, não acompanhou o mesmo ritmo do ímpeto de consumo de seus integrantes. É o que mostra parte do estudo da Boa Vista Serviços: 47% dos representantes das classes D e E não controlam seus gastos. Na C, o percentual é de 39%. Na A e na B, 31% cada um.

Resultado: o ranking de inadimplentes, quando a comparação é feita entre o próprio grupo, é liderado pelas classes com menor poder aquisitivo. Na D e E, 15% disseram que seus nomes são negativados em lista de maus pagadores durante todos os meses do ano. Na B, esse índice é de 7%. Na A, 5%.

O termo certo, defende Fernando Cosenza, diretor de Inovação e Sustentabilidade da Boa Vista Serviços, é planejamento sustentável para o crédito. No país, segundo estudo divulgado pelo SPC Brasil, o índice de inadimplência caiu 12% entre setembro e o mesmo mês de 2011.

A tendência é de que ocorram novas quedas, pois a proximidade das festas de fim de ano estimula inadimplentes a quitar dívidas em atraso para voltar a ter acesso ao crédito. Uma das fontes para limpar o nome é a primeira parcela do décimo terceiro salário, que deve ser paga até 30 de novembro. Quatro em cada 10 brasileiros de todas as classes sociais, segundo a Boa Vista, usam o pagamento adicional para quitar dívidas. (PHL)

 

Fonte: Estado de Minas

 

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