Cancelamento das consultas médicas leva pacientes a lotar hospitais de BH
Haja paciência para as filas e a espera
Diante da paralisação dos médicos vinculados aos planos de saúde, pacientes tiveram suas consultas canceladas e procuraram os pronto-atendimentos (PA) de hospitais, lotando essas unidades. No primeiro dia da “greve”, as tradicionais filas ficaram maiores e os doentes tiveram de esperar por mais tempo. Usuários foram obrigados a aguardar até cinco horas para conseguir atendimento. Para piorar, médicos que cancelaram suas agendas até o dia 18, quando o movimento deve ser encerrado, marcaram consultas somente para o mês que vem. Em contrapartida, as operadoras consideraram normal o movimento de ontem. Hoje a Associação Médica de Minas Gerais (AMMG) deve publicar balanço da adesão da categoria.
A cuidadora de idosos Kellen Praes esteve ontem no Hospital da Unimed, no Bairro Santa Efigênia, acompanhada de sua patroa para que ela fosse atendida no pronto-socorro. O chá de cadeira demorou mais de três horas, mesmo ela sendo preferencial. “Tem paciente esperando desde as 11h”, relatou Kellen às 15h30, dizendo que a área destinada à espera estava lotada. Na mesma unidade, o securitário Osvaldo Torquete Moura preferiu voltar para casa em vez de esperar o atendimento previsto. Com dor de cabeça e estomacal, ele foi informado por outros pacientes que a espera estava demorando até cinco horas. “É melhor ficar em casa. Plano de saúde está igual ao SUS”, afirmou, confirmando que a fila de espera era longa.
A procura de pacientes por pronto-atendimento não é novidade. Mesmo no dia a dia é comum que muitos optem por essas unidades para consultas que não são emergenciais. Segundo a AMMG, estudos mostram que 80% dos pacientes poderiam ser atendidos em outros setores.
Mas o principal transtorno vivido pelos usuários de planos de saúde foi mesmo o cancelamento das consultas. Estimativas da AMMG dão conta que até 250 mil podem ser canceladas no período de paralisação. Apesar de muitas operadoras terem avisado seus clientes sobre as desmarcações, há situações em que pacientes só ficaram sabendo do cancelamento na unidade médica.
Maria Aparecida Neves foi uma das que não foram informadas. No hospital, ela soube que haviam ligado para seu emprego, mas ela deixou a empresa há mais de um ano e outros telefones não foram chamados. Ela tinha consulta com psiquiatra ontem, mas foi remarcada para o dia 23. “Meu remédio de pressão acabou na semana passada. O médico deveria me avaliar e me passar nova receita”, afirma Maria. No caso da dona de casa Conceição Romualda, ela está há quatro meses sem fazer acompanhamento da diabetes. Ela não consegue agenda para endocrinologistas. Ontem, ela esteve no Hospital São Lucas e só conseguiu marcar para 1º de novembro. “Pago R$ 800 para a operadora e até hoje não sei se vale a pena”, afirma.
Para operadoras, dia foi “normal”
As principais operadoras de plano de saúde consideraram o atendimento no primeiro dia de paralisação dos médicos dentro da “normalidade”. Tanto a FenaSaúde, que reúne 15 operadoras de saúde e detém 36,9% do mercado nacional, quanto a Unimed-BH, maior operadora do estado, informaram que não houve grandes prejuízos aos pacientes.
A Unimed-BH destacou, por meio de nota, que não é possível mensurar o percentual de médicos cooperados que aderiram ao movimento, mas que “registrou um dia de normalidade”. Segundo a Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), a operadora foi a única a procurar a associação para negociar, tendo oferecido até 13% de reajuste, o que não é confirmado na nota. A proposta não atende ao pedido da categoria, que pede aumento de até 100% para cobrir o déficit dos repasses dos planos para os médicos na última década.
O presidente da AMMG, Lincoln Lopes Ferreira, afirma que nas três paralisações anteriores da categoria (em abril e setembro de 2011 e abril deste ano) as negociações não avançaram. O fato de terem durado somente 24 horas é considerado um dos principais motivos. Por isso, dessa vez, a proposta nacional foi de prolongar a parada. Com isso, muitas operadoras teriam dificuldades em remarcar suas consultas, sendo obrigadas a rever a tabela de honorários e, por consequência, atraindo novos médicos para compor os planos. “A oferta de médicos nas operadoras está diminuindo. A situação chegou no seu limite, estamos em um beco sem saída”, afirma Ferreira, que considera a punição aplicada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) às operadoras consequência da diminuição dos quadros. (PRF)
Fonte: Estado de Minas